Sindicato encerrou as comemorações dos 80 anos homenageando profissionais no Theatro São Pedro e dando início a mais uma década de lutas e enfrentamento de desafios

 

Neste 23 de setembro o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) completa 81 anos de atuação, energizado pela recente comemoração de encerramento das festividades de 80 anos da entidade, realizada dia último dia 12, no Multipalco do Theatro São Pedro, junto de quem mais importa: os e as jornalistas.

 

O SindJoRS sabe que está começando um novo período, talvez o mais desafiador de sua história. Após testemunhar ditaduras e repressão, cobrir as campanhas pela volta de eleições diretas e redemocratização, jornalistas que reportam diariamente os acontecimentos passaram a ter que disputar espaço com amadores que divulgam informações de forma irresponsável. Beneficiados pela queda da exigência do diploma para exercício da profissão, e pela facilidade de disseminação de textos e imagens que não se comprovam – ao contrário, muitos conteúdos falsos são propositalmente difundidos – a democracia foi novamente ameaçada. A ciência foi contestada. Trabalhadores e sindicatos passaram a ser vistos como inimigos. Mulheres viram seus direitos conquistados serem questionados, e elas, hoje maioria nas redações, foram as mais atacadas nas últimas eleições. Tudo isso é o cenário que está pela frente, que precisa ser e já está sendo enfrentado.

 

Em pleno 2023, a discussão para fechar a Convenção Coletiva de Trabalho deste ano até 2024 emperrou em uma cláusula sobre assédio moral. Como se não bastasse a dificuldade de obter ganhos reais, é preciso, ainda, discutir pontos que já deveriam ser óbvios, como paridade salarial entre gêneros, e a questão precisou ser levada ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que está mediando a negociação.

 

Como lembrou Laura Santos Rocha, presidenta do SindJoRS, na comemoração do dia 12, ao longo destas oito décadas, ela é apenas a terceira mulher a ocupar o posto de presidenta. “O que faz com que meu olhar para esta temática seja diferenciado”, afirmou, também destacando que as mulheres, apesar de serem maioria entre os jornalistas no Brasil (57,8%, segundo dados da Federação Nacional de Jornalistas – FENAJ) continuam recebendo menos que os homens. Também citou os casos de violência contra a imprensa, que atingiram mais as profissionais mulheres, e as dificuldades enfrentadas na pandemia.

 

Laura também recordou que o Sindicato está entre os 2,5% das instituições sindicais brasileiras que alcançam 80 anos de existência. Por isso mesmo, a comemoração e a virada para os 81 anos precisava refletir essa grandeza. Foram 365 dias, de 23 de setembro de 2022 até agora, de debates, lutas, eventos, participação de mobilizações no estado e na capital federal pelas pautas de interesse da categoria, da PEC do diploma ao projeto contra às fake news, taxação das grandes plataformas, democratização da comunicação, entre tantos outros. Foram visitas a redações, a gabinetes, lives, seminários, exposições, o SindJoRS esteve onde o seu filiado precisava que estivesse, e também abriu novos canais com os jornalistas, com séries de entrevistas e podcasts, e ainda um espaço para os profissionais que precisarem acessar computador e internet para trabalhar dentro do próprio Sindicato.

 

Oitenta anos em uma noite

Para encerrar com chave de ouro essa programação festiva do ano 80 – rumo aos 81 anos agora completados, – a categoria não só assistiu como subiu ao palco para comemorar. Foram músicos, artistas, poetas, escritores, muitos deles também jornalistas: Quarteto de Cordas do Theatro São Pedro, Grupo Unamérica, Arthur de Faria, Balala Campos, Cesar Fraga (Big Zen Vodoo), Pâmela Amaro, José Antônio Silva, Márcia Martins, que se apresentaram para colegas e homenageados do SindJoRS. Em paralelo, também foi montada a exposição fotográfica “Fotojornalismo como protagonista da notícia”, com trabalhos de 14 profissionais. A programação cultural foi construída por um grupo de jornalistas, entre eles o crítico de música Juarez Fonseca.

 

Cada artista, à sua maneira, destacou os anos do SindJoRS, seja pela escolha do repertório ou dos diálogos bem-humorados com o público, trazendo músicas que marcaram as décadas pelas quais o Sindicato passou ou apresentando novidades em seus trabalhos. Foi uma noite para cantar junto, rir e se emocionar.

 

Homenagens

Para marcar os seus 80 anos, o SindJoRS decidiu homenagear oito profissionais, um por década, representando “a síntese e a essência do jornalismo gaúcho”: Antônio Oliveira, Carlos Bastos, João Carlos Belmonte, Lauro Quadros, Paulo Gasparotto, Tânia Carvalho, Vera Daisy Barcellos e Vera Spolidoro – que não compareceu à festa presencialmente, mas assistiu emocionada a homenagem transmitida pelas redes sociais do Sindicato. Cada um deles foi muito aplaudido e reverenciado pelo público presente, que assistiu ou conviveu com os jornalistas em suas trajetórias profissionais pelo rádio, televisão, jornal, em diferentes linhas de frente, da política ao esporte, passando pelo colunismo social.

 

Também foram homenageados postumamente os jornalistas Flávio Porcello e João Borges de Souza. Porcello faleceu em 2021, aos 70 anos, vítima da Covid-19. A presidenta Laura Santos Rocha destacou que em seu nome o Sindicato lembra as quase 700 mil pessoas vítimas do negacionismo e da indiferença do governo brasileiro à época, que escolheu desrespeitar as recomendações da ciência durante a pandemia. Souza faleceu aos 87 anos, em 2022, e foi representado por seu filho, que agradeceu a homenagem e reforçou o significado da honraria.

 

A noite também foi de solidariedade, com doações para vítimas de enchentes no estado. Veja aqui como doar.

 

Após as apresentações e homenagens, a noite terminou com uma pequena confraternização e brinde. Foram-se 80 anos, começa o ano 81. Vida longa ao SindJoRS.

 

Texto: Letícia Castro/Diretoria SindJoRS

 

Leia alguns depoimentos e manifestações publicados por homenageados em seus sites ou redes sociais:

Antonio Oliveira

Caco Belmonte

Paulo Gasparotto

Tânia Carvalho

 

Assista a transmissão feita pelo Facebook na aba vídeos da rede ou clique aqui.

 

Veja no Instagram do SindJoRS o Destaque “80 anos” ou clique aqui.

 

Leia aqui o discurso da presidenta do SindJoRS, Laura Santos Rocha:

Boa noite a todas, todos e todes presentes neste Theatro como também aos que nos acompanham pelas redes sociais. Ao iniciar minha fala gostaria de me solidarizar com as milhares de pessoas desabrigadas e com as famílias das dezenas de vítimas fatais desta tragédia climática que atingiu o nosso estado na semana passada. Faço um chamamento aos presentes para que possamos arrecadar durante este evento de celebração aos 80 anos do SindJoRS, valores importantes para minimamente apoiar as vítimas do ciclone. Gostaria de citar, de maneira especial, nosso colega Cristiano Braga Duarte, de Lajeado, que perdeu tudo na histórica enchente do Vale do Taquari em nome de quem nos solidarizamos com profissionais de comunicação da região.

 

A palavra celebrar tem como um dos seus significados mais importantes o de recordar ou comemorar algo, e é com imenso prazer, para nós do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, que celebramos junto com vocês o encerramento dos Festejos de 80 anos do nosso SindJoRS. Nós estamos aqui, com todas as pessoas presentes, para somar, porque fazemos parte desta história também.

 

Em setembro de 2022, iniciamos as comemorações destas oito décadas do Sindicato, e a ideia foi passar 12 meses valorizando todos os principais aspectos destes 80 anos em que “vivemos e aprendemos a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.

 

Neste um ano de comemorações tivemos a oportunidade de promover muitas pautas paralelas, discussões, debates, reflexões, propostas, projetos e festividades que representaram as necessidades, desejos e anseios das e dos jornalistas do Rio Grande do Sul. Entre algumas das atividades desenvolvidas ao longo dos últimos 365 dias, citamos: Exposição Virtual FOTOJORNALISMO COMO PROTAGONISTA DA NOTICIA; Live com Basilia Rodrigues – jornalista e advogada, também analista política da CNN; Prêmio Jornalismo e Festividades, na cidade do Rio Grande; Debate sobre trabalho dos jornalistas nas coberturas carnavalescas, através de entrevistas e reportagem especial com Renato Dornelles e Claudio Brito; Live “ASSÉDIO MORAL E SEU IMPACTO NO TRABALHO DOS JORNALISTAS”, criação do SindJoRS Destaca, onde as primeiras entrevistas foram com Vera Spolidoro, Ilza Girardi e Antônio Hohlfeldt; implantação da nova página do Sindicato; criação do Podcast A PALAVRA E TUA; realização de coberturas internacionais sobre temas de direitos humanos e mundo do trabalho; participação efetiva da PEC DO DIPLOMA; negociação para a inclusão de cláusulas sobre saúde mental, qualidade de vida e direitos das mulheres na Convenção Coletiva de Trabalho 2023/2024; inauguração da Sala de Imprensa, na sede do Sindicato; participação no Fórum Social Mundial, entre outras tantas atividades cuidadosamente elaboradas para a categoria.

 

A década de quarenta marcou a história da civilização humana pela II Guerra Mundial, resultante do aprofundamento, ao longo dos anos anteriores, de processos de crises sociais, trabalhistas, morais, econômicas e políticas que promoveram a ascensão de governos de extrema direita em diferentes partes do mundo. Após este período obscuro da história mundial “a flor da Resistência daquele que morreu pela liberdade” nasceu, e junto com ela o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.

 

Foi através da Carta emitida pelo Ministério de Estado dos Negócios do Trabalho, Indústria e Comércio que a Associação Profissional dos Trabalhadores em Empresas Jornalísticas do Estado do Rio Grande do Sul, o SindJoRS, nasceu e, através deste documento oficial, passou a representar a categoria profissional dos jornalistas gaúchos a partir do dia 23 de setembro de 1942.

 

Nestes 80 anos de vida do nosso Sindicato, temos muitas histórias, lutas e conquistas para contar, pois “vivemos e não temos a vergonha de ser feliz” e por isto lutamos, lutamos e lutamos “com a beleza de ser um eterno aprendiz”.

 

Ao contar esta história do nosso Sindicato, queremos homenagear 8 profissionais da comunicação que são a síntese e a essência do jornalismo gaúcho. São eles: Antônio Oliveira, Carlos Bastos, João Carlos Belmonte, Lauro Quadros, Paulo Gasparotto, Tânia Carvalho, Vera Daisy Barcellos e Vera Spolidoro.

 

Queremos homenagear também postumamente a Flavio Porcello – e em seu nome lembramos os quase 700.000 brasileiras e brasileiros que foram vítimas do negacionismo e da indiferença que desrespeitou as recomendações da ciência durante a pandemia do COVID-19, bem como a João Borges de Souza, que atuou em diferentes cargos no SindJoRS no período da ditadura militar e foi o primeiro presidente negro do nosso Sindicato.

 

Vivemos em um mundo onde um celular na mão transforma anônimos em celebridades mundiais em minutos e onde assistimos a propagação descontrolada das Fake News e as profundas e aceleradas transformações das comunicações no âmbito da sociedade. Face a esta nova realidade mundial, nunca foi tão importante que houvesse um jornalismo sério, competente e dinâmico. Precisamos conscientizar as pessoas que receber e propagar notícias falsas é crime.

 

Como Jornalistas temos a função profissional de trazer, com credibilidade, a notícia de qualidade para a sociedade, de forma independente e plural, e tendo por base uma tríade composta pela luta pela democracia, pelo estado de direito e uma imprensa livre. Para alcançar estes objetivos é necessário e imprescindível assegurar os direitos trabalhistas e a qualidade de vida das e dos jornalistas. E possível que “vivamos como nossos pais”, mas não desistiremos jamais de lutar pelo direito de realizar nosso trabalho com ética e dignidade, e por uma Convenção Coletiva que realmente represente os desejos e anseios da nossa categoria, pois como cantava Victor Jara, temos “O DIREITO DE VIVER EM PAZ”.

 

O SindJoRS está entre os 2,5% dos sindicatos brasileiros que alcançam 80 anos de existência e, ao longo destas 8 décadas, sou a terceira mulher a ocupar o posto de presidenta, o que faz com que meu olhar para esta temática seja diferenciado. Importante ressaltar que as mulheres, apesar de serem maioria entre os jornalistas no Brasil (57,8%, segundo dados da Federação Nacional de Jornalistas – FENAJ) continuam recebendo menos que os homens, com menos acesso e possibilidade de ascensão a cargos de chefia e foram os principais alvos dos ataques e violências sofridos pelos jornalistas / imprensa em 2022, além de terem sido as mais penalizadas durante a pandemia.

 

Na atualidade, estamos em um mundo pós pandêmico, porém os efeitos do confinamento durante a grave crise global do COVID-19 deixaram cicatrizes abertas no ambiente de trabalho e nos profissionais em geral, que se fazem sentir em todos os setores de atividade, e jornalistas não são uma exceção. Em momentos importantes como estes, relembramos Paulo Freire, que dizia: “a música pode transformar a sociedade”, e também a Milan Kundera, que escreveu: “A música é libertadora e nos liberta da solidão e da clausura e abre no corpo as portas por onde a alma pode sair para confraternizar”. E se eles dizem, quem somos nós para contrariar, não é mesmo?

 

Tenho a certeza de que todas, todos e todes que estão presentes neste fantástico Theatro São Pedro, que é a representação viva da cultura no RS, para o encerramento dos festejos dos 80 anos do nosso SindJoRS, viverão momentos para cultivar a alegria e construir felicidade através da música, da poesia e da literatura tão essenciais para todos nós.

 

Devolvo a palavra aos nossos mestres de cerimônia, Carla Seabra e Juarez Fonseca, os quais agradeço imensamente pelo trabalho que fizeram na organização desta Festa Cultural como também é importante citar os demais integrantes da Comissão organizadora desta Festa: Alander Diaz, André Zenobini, Eliane Silveira, Isabel Clavelin, Jorge Leão, Letícia Castro, Mônica Cabanas, idealizadora desse magnífico projeto, Niara de Oliveira, Stela Pastore, Vera Daisy Barcellos e Viviane Finkielsztejn, bem como aos parceiros: Theatro São Pedro, Racon, Cooperativa Girasol, Escritório Direito Social, Escritório Cardeal, Michigan Curso de Inglês, Toca das Flores, Ângulo de Visão, Bazar de Especiarias e Brasil dos Parafusos. Aos amigos da Editora Arquipélago, Editora Bestiário e Libretos Editora: gracias por abraçarem esta ideia. Foi este trabalho conjunto, tão maravilhoso, que nos possibilitou a construção e realização deste sonho que é a Festa Cultural de encerramento das Comemorações dos 80 anos do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul. Agradeço de coração pela disponibilidade, trabalho, dedicação, cooperação e participação. Esse grupo é fantástico. Para nossa funcionária, Cátia Flores Oliveira Quaresma, um agradecimento especial por ser a nossa retaguarda!

 

*Nesse texto tivemos citações de:
Bella Ciao, canto popular das trabalhadoras rurais do arroz da Itália
Aprendendo a Jogar, de Guilherme Arantes
Insustentável Leveza do ser, de Milan Kundera
Como Nossos Pais, de Belquior
O Que é o Que é, de Gonzaguinha
“O DIREITO DE VIVER EM PAZ”, de Victor Jara

 

Gratidão Lauro, Eliane, Carmen Susana e Lavínia.
Obrigada pela presença de todas, todos e todes!

 

 

Galeria de fotos

Fotos: Marco Nedeff, Jorge Leão e diretoria SindJoRS