Com uma intensa jornada de intervenções e debates a 16ª Plenária Nacional da CUT firmou, ao longo de quatro dias, seus propósitos de reorganizar a atuação sindical considerando que há um novo cenário no mundo do trabalho, que já se apresentava muito antes da pandemia e se acentuou, sensivelmente, no decorrer de uma das maiores crises sanitárias do planeta.  O encontro preparou a base dos conteúdos programáticos para o 14º Congresso Nacional da entidade, já agendado para outubro de 2023. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS – Sindjors participou do evento, de 21 a 25 de outubro de 2021, realizado em formato digital, reunindo mais de 950 delegados, delegadas, observadores e convidados de todo o país. A representação do Sindicato foi da presidenta Vera Daisy Barcellos que integrou a delegação da CUT/RS.

 

Com a temática “Organização e Unidade para Lutar,” a Plenária prestou homenagem póstuma aos sindicalistas João Felício e Kjeld Jkopbsen, que presidiram a Central e faleceram em 2020. Ambos, ao longo de suas vidas, foram incansáveis na luta pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, ações que alcançaram reconhecimento internacional. Outra reverência foi prestada, quando foi comunicada a morte, por Covid 19, de Antônio Almeida, integrante da direção nacional da CUT e secretário-geral da Confederação Nacional dos trabalhadores em Comércio e Serviços (Contracs-CUT).

 

Em uma das suas intervenções, o presidente da CUT nacional, Sérgio Nobre, enfatizou que o novo fazer sindical precisa ser revolucionário, apresentar novas formas de atuação e ser agregador de diferentes frentes de trabalho. “Temos que congregar, ou melhor, ir ao encontro de trabalhadores e trabalhadoras que estão para além das fábricas. É preciso buscar aqueles que estão nas comunidades e agregados nas múltiplas associações, “para que possamos fortalecer a CUT com um expressivo e diferenciado número de entidades”. Pensamento fortalecido, ao final da plenária que reverenciou o educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), pela Secretária-Geral e o vice-presidente da CUT, Carmen Foro e Vagner Freitas.

 

Proposta que veio ao encontro das conclusões apontadas pelo Seminário Internacional “Desafios e Oportunidades para Jornalistas num Mundo em Transformação organizado pelo Sindjors, em setembro último, que contou com as representações da CUT estadual e nacional e organismos das Nações Unidas, Dieese, entre outros. Em sua intervenção em um dos grupos de discussão e avaliação do cenário nacional, o Secretário de Administração e Finanças da CUT/RS, Antônio Güntzel, apresentou a experiência das ações “CUT com a Comunidade” que vem sendo bem-sucedida e com significativo alcance junto aos trabalhadores e trabalhadoras, fato que reforça a urgência das entidades sindicais de ir ao encontro das suas bases. Atividade que repercutiu entre os participantes. Ações que encontraram igual ressonância nas intervenções das representações internacionais, entre elas a do secretário-geral da Confederação Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras das Américas (CSA), Rafael Freire, que reforçou “a necessária unificação das forças sindicais num diálogo constante com a sociedade em seus diferentes espaços”.

 

O evento também contou, em sua abertura, com falas dos ex-presidentes Luis Inácio Lula da Silva, Dilma Rouseff e do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O diplomata reforçou que um dos principais desafios da classe trabalhadora e das representações sindicais é superar a atual precarização do mundo do trabalho. Fato que, segundo ele, não começou agora com a pandemia e, sim, em 2008, com a grande crise econômica que afetou o mundo do trabalho.

 

Pesquisa sobre os trabalhadores em aplicativos – ainda em fase de coleta de dados, a “Investigação, Organização e Fortalecimento dos Direitos e Diálogo Social com os Trabalhadores de Aplicativos de Entrega em Brasília e Recife” foi previamente apresentada à plenária. O projeto da CUT nacional foca na questão da uberização com foco nos entregadores, e conta com o apoio da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Seus dados prévios repercutiram na plenária. O resumo das informações preliminares aponta que grande parte dos que atuam no campo das tele-entregas “não se consideram empreendedores”, como usualmente são denominados.  E uma das causas para esta não identificação está nos baixos rendimentos mensais, uma vez que muitos trabalham mais de 14 horas diárias, têm gastos com o conserto de seus veículos – bicicletas ou motos – e não são ressarcidos pelas empresas que os contratam. Outra questão relevante apontada nos dados iniciais do estudo sobre os entregadores de Aplicativos é que a categoria não rejeita o apoio dos sindicatos e vê na organização sindical a possibilidade inicial de oferta de abrigo “para tomar um copo de água, descansar e acessar o banheiro”. Uma vez que isto lhes é negado pelas empresas. A coleta dos dados iniciais, que também se estendeu ao Piauí, revelou, ainda, que:

 

  • a categoria é composta, em sua grande maioria, por homens (algo como 90%);
  • cerca de 50% são jovens até 30 anos (no caso de “bike” e outras regiões este número aumenta sensivelmente;
  • Mais de 60% se autodeclaram pretos ou pardos;
  • Mais de 60% se autodeclaram católicos e evangélicos;
  • Cerca de 50% têm ensino médio completo.

 

Outro ponto que ganhou destaque durante o encontro foi a apresentação do projeto Brigadas Digitais da CUT, em andamento, focado na formação e visando estruturar e fortalecer a Rede de Comunicação da entidade com os dirigentes, militantes, trabalhadores e trabalhadoras. Mesmo reconhecendo as dificuldades de acesso à internet em muitos territórios, a 16ª Plenária Nacional apontou isso em diferentes momentos, a proposta segue ganhando adeptos.  A área de Comunicação da CUT aposta nas redes sociais para se aproximar mais da suas diferentes bases.

 

Ainda na linha dos relatos quando das reuniões dos grupos da plenária, a presidenta do Sindjors revelou os constantes esforços da entidade para construir diferentes ações com o intuito de se aproximar da categoria, principalmente dos jovens profissionais; dos sindicatos dos campos da comunicação, bem como de associações afins. Além disso, a dirigente revelou ao GT sua preocupação em concretizar um dos pontos que será basilar na próxima negociação salarial coletiva (2022/2023) com a patronal, focado no “direito à desconexão” e, igualmente, uma remuneração justa ao teletrabalho, uma vez que os gastos com a manutenção de equipamentos e de outros materiais que são bancados pelos trabalhadores e trabalhadoras.

 

Texto: Vera Daisy Barcellos/Sindjors

 

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