As comemorações do #8M do Sindjors acontecerão durante todo o mês de março, com lives já programadas, de interesse para as mulheres jornalistas. O primeiro encontro aconteceu na terça-feira (09/03), com mediação da diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS – Sindjors, Kátia Marko, que também integra a Comissão de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj. Participaram presidentas e diretoras dos sindicatos da categoria, pelo Brasil, para o tema Mulheres e o sindicalismo.
Sindicalismo tem que ter paixão
A primeira a se manifestar foi Marian Trigueiros, Secretária de Cultura e Eventos do Sindijor (Norte do Paraná), que falou sobre o município de Londrina, sede da entidade, que está próximo de ser a terceira maior cidade da região sul. A diretoria, que assumiu em 2020, tem 12 mulheres e 15 homens, a maior presença feminina, desde a fundação do Sindicato. E esta é a quinta vez que uma mulher é a presidenta. Marian falou sobre a Comissão de Mulheres da Fenaj, que trata das questões de gênero e que tem realizado um excelente trabalho.
Alessandra Bacelar, presidenta do Sindijorto (Tocantins), Estado mais novo da Federação, contou sobre o período da pandemia, quando houve um aumento significativo da demanda e o sindicato precisou abrir novas frentes. Ela salientou que o sindicalismo “tem que ser feito com paixão”. E explicou que novos filiados foram chegando por reconhecerem a dedicação no acolhimento das demandas dos colegas, como a jornada de cinco horas, o piso salarial e o respeito ao jornalista, que são as principais metas da atual diretoria. “É uma luta angustiante […], acredito que a união faz a força […] como é bom saber que se pode estender a mão”, disse Alessandra.
Múltiplas tarefas e o tom de voz
Adriana Cruz, presidenta do Sinjoper (Roraima) falou sobre a felicidade de ver crescer a força das jornalistas mulheres, no Estado de Roraima. Ela disse, ainda, que os anos de 2019, 2020 e 2021 fizeram com que se mudasse a forma de trabalhar, buscando atender todos e todas profissionais da categoria. E acrescentou que, com o isolamento, as múltiplas tarefas exigiram muito das mulheres. “E não recebemos, ainda, o reconhecimento que merecemos”, provocou. Para Adriana, a igualdade de gênero ainda não existe, mas celebra que, em Roraima, os avanços foram muitos, graças à união e à luta das mulheres, com 100% de vitórias nas causas de assédio, violência, e outras demandas de gênero. “Nós nos reinventamos, durante a pandemia […] trouxemos de volta à luta companheiros que tinham se afastado do sindicato”, completou.
Renata Maffezoli, coordenadora jurídica do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, acredita que o sindicato reflete a sociedade e, por isso, o machismo ainda se faz tão presente. Para ela, que faz parte da Comissão de Mulheres da Fenaj, ainda há uma dificuldade em a mulher se inserir, ser acolhida no espaço sindical. “Às vezes, precisamos subir o tom de voz, em reuniões, para sermos ouvidas e isso é muito cansativo. Precisamos refletir sobre os nossos espaços, que precisam ser de acolhimento, de igualdade, de militância”, disse ela. Renata citou um levantamento de assédio sexual, de 2019, que apontou que mais de 70% de mulheres jornalistas já sofreram assédio sexual, e dessas, 79% não denunciaram, por medo. E essa é uma realidade de todas, disse ela, um dado alarmante, mas que abriu um espaço de debates e de acolhimento.
Faltam condições e sobra trabalho
Alessandra Mello, presidenta do SJPMG (Minas Gerais), falou sobre o aumento das demandas, com a pandemia, com demissões, afastamentos, assédios, regras sanitárias, muitos problemas trabalhistas, e, também, os problemas financeiros que os sindicatos enfrentam, desde a reforma trabalhista. “É um desafio tremendo, mas eu tenho muito orgulho de ser presidenta e de ter sido reeleita; é muito difícil, faltam condições e sobra trabalho”. Segundo ela, há um impedimento de a mulher atuar no sindicalismo, que é o machismo estrutural, que vem sendo quebrado aos poucos. Atualmente, são 47% de mulheres na diretoria do sindicato mineiro, a maior participação feminina na história.
Samira de Castro, da Comissão Nacional de Mulheres da Fenaj, e Diretora de Comunicação, Cultura e Eventos do Sindjorce (Ceará), contou que a comissão, criada em fevereiro de 2020, com 21 companheiras, representando 19 sindicatos, surgiu no momento mais crítico de ataques do presidente Bolsonaro às mulheres jornalistas. “Temos orientado os sindicatos a criarem suas comissões, para abrigar mais mulheres nos seus espaços. É fundamental ter consciência de classe”, disse. Samira elencou as dificuldades enfrentadas pelas mulheres, como a precarização do trabalho, assédios sexual e moral, sobrecarga de trabalho, ataques que vêm da sociedade, envolvida no discurso de ódio que vem do presidente, sexismo e misoginia absurdos, dentre outros. “E o trabalho da comissão é enfrentar essas demandas, daí o tema da nossa campanha Lute Como uma Jornalista”. De acordo com Samira, os sindicatos precisam ter as portas abertas para a entrada de mulheres, ser um espaço de acolhimento e de conscientização.
A falta de solidariedade que fortalece
Vera Daisy Barcellos, presidenta do Sindjors, contou que, em 78 anos do sindicato, 121 mulheres tiveram presença nas diretorias, apenas 2% do total. A gestão atual, que assumiu em meados de 2019, é a que reúne o maior contingente de mulheres da história. Vera Daisy não é a primeira mulher a liderar o Sindjors (a primeira foi Vera Spolidoro), mas é a primeira mulher negra. Ela disse que, ao acompanhar as falas das colegas, percebeu que o machismo, o sexismo, “ainda estão muito presentes nas nossas rotinas”. De acordo com a presidenta do Sindjors, quem está ao lado dela, buscando resolver os problemas que se apresentam, são, na maioria, diretoras mulheres. “Em um ano e meio, conseguimos colocar em dia muitos problemas financeiros que herdamos de diretorias anteriores. É uma tarefa árdua, como disseram as demais companheiras”, disse. Vera Daisy salientou que, em 2020, ano em que se iniciou a pandemia, o sindicato saiu vitorioso no acordo coletivo e no acordo emergencial, assegurando a saúde dos jornalistas nos ambientes de trabalho e a reposição da inflação nos salários. “E esse tem sido o norte do nosso trabalho. Recebemos denúncias e acompanhamos de perto o que está acontecendo nas redações”, falou. “Estar à frente do Sindjors é um processo, por vezes, dolorido, pela falta de solidariedade masculina. Por outro lado, isso nos fortalece”, completou.
Beth Costa, secretária geral da Fenaj, falou da experiência na Comissão de Mulheres, que foi muito positiva. E que o grande papel da Federação é cultivar esse sentimento de que ninguém está sozinho à frente do seu sindicato. É um lugar de acolhimento e de troca de experiências. Beth mencionou a FIJ – Federação Internacional dos Jornalistas, que dá muita importância para o trabalho sindical da mulher e incentiva a presença delas em cargos eletivos nos sindicatos. “Todas nós sentimos, na pele, a discriminação, mas nossa função é estar sempre na luta, abrindo frentes”, disse ela. E afirmou que, diante da pandemia, pode-se concluir sobre a necessidade de um jornalismo ético, sério, verdadeiro. “Nosso trabalho é esse, realizar um jornalismo de qualidade. Nosso espaço é de informação e, também, de transformação”, finalizou.
Não há outro caminho, que não seja o de luta
Por fim, Maria José Braga, presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, disse que “vivemos tempos muito difíceis, de crise do capital, que ameaça direitos dos trabalhadores, e que, desde 2016, a classe trabalhadora vem sofrendo perdas”. Para ela não há outro caminho, senão o de luta. E é o que a mulher vem fazendo, ao longo de gerações. “Não existe sindicalismo que defenda os direitos da classe trabalhadora e negue os direitos das mulheres. Nossa posição é de absoluta necessidade de luta”. Ela falou que, se há algo positivo nessa pandemia é que: a ciência importa; o trabalho do jornalismo importa, para levar informação séria à população; e a produção de riquezas, que move o mundo, é feita pela classe trabalhadora, especialmente pelas mulheres trabalhadoras, que além de produzir riqueza, ainda são responsáveis pelo trabalho não reconhecido e não remunerado dos cuidados. “A resistência e a força da luta são proporcionais às dificuldades. Se vivemos tempos de ataques permanentes, nossa resistência também será permanente. Nós, mulheres, somos 60% da categoria de jornalistas”, finalizou.
A live foi acompanhada por mais de 200 pessoas e, no facebook, jornalistas se manifestaram sobre a iniciativa do Sindjors, como a jornalista Stela Pastore, que disse: “muito obrigada Vera Daisy, por dedicar tanta energia para o Sindjors e por todas nós. Na figura da Vera estendo minha admiração e agradecimento a todas as colegas da diretoria”. A parceira de ações do Sindjors, Mônica Cabañas, que mora no México, disse: “Vera Daisy, o trabalho que estás realizando no Sindicato, junto com todas as mulheres poderosas que compõem esta gestão, faz com que eu sinta orgulho de fazer parte deste Sindicato”. O jornalista Mário Rocha, disse que assistiu a todo o evento e “cumprimento as presidentas e demais colaboradoras nas Diretorias pelos esforços desenvolvidos. E Vera, teu trabalho e o de todas as companheiras é reconhecido, aqui no RS”.
Uma live para ficar na história do Sindjors como mais um avanço das mulheres no espaço sindical.
Texto: Carla Seabra/Diretoria Sindjors