Saiba como quadrilha de extorsão por envio de nudes e em casos de precatórios e processos cíveis e trabalhistas usou escritório jurídico, conveniado ao Sindicato de Jornalistas, para aplicar golpes

O advogado do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS), Antônio Carlos Porto Junior, alerta para possíveis golpes envolvendo o nome do profissional ou de seu escritório e dá dicas de como não cair nesses golpes.

“Eles são espertos, sabem muito sobre as pessoas em quem costumam aplicar golpes, e são difíceis de rastrear. Ao longo do ano passado, usaram o Escritório de Direito Social, conveniado com o SindJoRS, para tentar aplicar um golpe”, relata Porto.

A quadrilha, segundo o advogado, engana usuários de redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram, Whatsapp) extorquindo suas vítimas por envio de nudes e acusações de pedofilia. Além disso, utilizou a imagem do escritório e do advogado Antônio Carlos Porto Junior como especialistas em investigações de crimes de pedofilia para exigir dinheiro e evitar um processo.

“Há pouco mais de duas semanas, voltaram a atacar. Agora, se passam por empregados ou assistentes dos advogados do escritório, para pedir dinheiro e liberar precatórios. Os dados são literalmente furtados em sites jurídicos que permitem consultas em processos e nos próprios sites dos escritórios de advocacia”, diz o advogado.

O passo seguinte dos criminosos é tentar conferir credibilidade à mensagem por e-mail ou pelos directs de redes sociais e pelo Whatsapp. “Desde a pandemia de Covid, as fraudes se intensificaram. As quadrilhas roubam os dados dos escritórios e dos advogados e fazem contatos com nossos clientes como se fossem clientes do escritório. Dizem até o número do processo que vai ser pago”, conta Porto.

Segundo o advogado, os clientes de seu escritório com precatórios são o alvo preferido das quadrilhas. “Há duas semanas aconteceu de novo. Ofereceram valores para liberação de precatório de jornalistas e de não jornalistas, como petroleiros e médicos. Pedem para depositar um valor para receber o precatório”, detalha.

“Não existe o cliente pagar para receber”

O alerta da frase do subtítulo acima é um guarda-chuva ou vacina. Serve para extorsões por envio de nudes e acusações de pedofilia, pagamentos antecipados de precatórios e qualquer causa trabalhista ou cível que envolva reparo por valores. “Não existe o cliente pagar para receber. Eles pedem dinheiro para liberar o precatório e realizar a fraude”, diz Porto Jr.

O advogado conta que, quando o escritório passou a receber telefonemas, vítimas de outros estados chegavam a chorar durante a ligação. Há vítimas que se dispõem a pagar o que for para não serem expostas. Muitos eram advogados de vítimas de golpe, que entravam em contato para fazer algum acordo, como se Porto Junior de fato fosse um investigador de pedofilia.

O advogado explica que recebe essas ligações por razões simples: os golpistas copiam os dados do site do escritório e fotos das redes sociais. Então, montam um perfil falso no Instagram.

Buscam dados de ações em que atua como advogado e baixam fotos de seus perfis sociais e CPF ou CNPJ, além da logo de seu escritório, e enviam às vítimas. “Usaram fotos das redes sociais em que eu estava fazendo trilha. Esses dados foram usados pela gangue dos nudes para prática de extorsão. Pediam dinheiro para processos via instagram. Recebi ligações de vítimas muito constrangidas”, diz ele.

“Como o golpe do bilhete”

Porto Junior diz que o esquema é bem-feito e envolve integrantes da quadrilha de vários estados. Ele aconselha as pessoas a ficarem atentas, pesquisarem os perfis de quem manda esse tipo de conteúdo e, principalmente, entrar em contato com o escritório pelos canais que sempre utilizaram. “Um telefone com DDD de um outro estado é sempre suspeito”, alerta.

As propostas que chegam, segundo o advogado do SindJoRS, propõem a liberação de um valor de processo, como R$ 200 mil, mediante o pagamento de R$ 2 mil por depósito na conta-corrente do “advogado” (na verdade, integrante da quadrilha), mencionado no conteúdo fraudulento enviado.

Em caso de dúvida, a recomendação é entrar em contato com o escritório. “Fale com o seu advogado. Está acontecendo direto este tipo de fraude. É como o antigo golpe do bilhete. O cara vende uma oportunidade que, na verdade, é um problema, uma fraude”, acrescenta.

Fique atento e saiba o que fazer

• Quando receber um e-mail com fotos de um advogado que você não conhece e não o representa em um processo, desconfie. Entre em contato diretamente com o seu advogado por telefone – um que você já tenha falado anteriormente ou esteja em um site ou rede oficial – ou presencialmente no escritório.

• Se o contato com promessa de vantagem for por telefone, preste atenção ao contexto e ao conteúdo da conversa e ao linguajar. A ligação pode ser feita de dentro de um presídio por alguma pessoa completamente estranha ao seu convívio.

• Provavelmente o golpista estará bem informado sobre o beneficiário de um processo a que ele teve acesso ou recebeu informações. Lembre-se que ele tem acesso ao número do seu processo e até a detalhes de sua vida pessoal por meio de uma simples investigação em seus perfis nas redes sociais.

• A preferência das quadrilhas é por ações que discutam reparo de danos com reembolsos de algum valor devido, como ações trabalhistas, ou que cobram valores advindos de precatórios públicos.

Cuidado com as extorsões e falsas acusações de pedofilia

• Para evitar casos de extorsão, não aceite amizades com pessoas de quem você não verificou o perfil nas redes sociais (Twitter, Facebook, Instagram, Tiktok, Whatsapp, etc).

• Não responda a mensagens e não interaja com quem você não tiver certeza que é maior de idade nos “directs” (mensagens privadas nas redes sociais). Pode ser uma armadilha.

• Fotos de jovens em praias ou em trajes provocantes são potenciais disfarces de golpistas.

• Muitos perfis são administrados por pessoas pertencentes a quadrilhas de golpistas especializadas e com conhecimento de padrões comportamentais de usuários de redes sociais, em especial homens da terceira idade. Lembre-se que eles estudam o perfil das vítimas e selecionam aquela considerada mais propensa a cair no golpe.

• Caso você tenha caído em algum golpe, fale com seus familiares e procure a Polícia Civil para registro de boletim de ocorrência.

Texto: Clóvis Victoria Junior e  Edição: Letícia Castro | Diretoria SindJoRS