O mais novo episódio de violência contra jornalistas aconteceu durante investigação da Polícia Federal sobre esquema de contrabando de grãos e agrotóxicos entre Brasil e Argentina, envolvendo criminosos de cidades gaúchas e de outros Estados. Foi descoberto pelos investigadores que havia ameaça de morte ao jornalista investigativo Giovani Grizotti.

 

Para entender o caso, dois integrantes de uma quadrilha criminosa que, segundo a Polícia Federal, movimentou R$ 3,5 bilhões de reais, em cinco anos, com o contrabando de soja, milho e agrotóxicos entre Argentina e Brasil, trocam mensagens captadas pela polícia. Os bandidos revelam uma trama para tirar a vida do jornalista Giovani Grizotti, da RBSTV. Acompanhe:

– “Ele fica procurando sarna para se coçar e daí ele pega e faz essas investigações e larga em rede nacional. Daí, ele força a polícia a ir atrás disso aí, né”?

– Manda matar. Você acha que para? – perguntou o outro contrabandista.

– Eu acho que pros caras que têm mais coragem, fazendo isso o brique melhora, respondeu o comparsa.

 

A denúncia da ação dos contrabandistas foi revelada, para todo o país, pelo repórter e sua equipe em outubro de 2022. Grizotti e seu repórter cinematográfico acompanharam, durante dias, a ação do grupo que trazia soja contrabandeada da Argentina pelos rios da fronteira. Para isso, utilizavam portos clandestinos e driblavam os postos de fiscalização.

 

Uma bomba!

Pouco mais de um ano depois, agentes da Polícia Federal bateram às portas da quadrilha, em pelo menos 14 cidades gaúchas e catarinenses. De acordo com a Polícia Federal, 60 suspeitos são investigados. Houve bloqueio judicial de 58 milhões de reais em contas bancárias, apreensão de carros de luxo e de um avião com valor estimado em R$ 3,6 milhões de reais. Durante a investigação foram apreendidas 171 toneladas de soja, milho e agrotóxicos.

 

Nas reportagens que faz para a RBS TV, Grizotti evita aparecer, justamente para reduzir ao máximo as chances de que uma ameaça ou intimidação se transforme em algo real e que coloque a vida dele em risco. O jornalista, um dos principais repórteres investigativos do Estado, já revelou casos de corrupção na política e outras matérias, que foram o pontapé inicial da cassação de deputados que praticavam a popularmente chamada “rachadinha”. Recentemente mostrou como o crime organizado aliciou estagiários e se infiltrou no poder judiciário gaúcho, artimanha que foi cessada pelo judiciário assim que soube do esquema de repasse de informações privilegiadas para integrantes de facções, afastou os estagiários e acionou a polícia.

 

Com a descoberta do plano que estava arquitetado para matar o repórter gaúcho, Grizotti redobrou os cuidados ao sair de casa, ir ao trabalho e cumprir a missão de informar a sociedade. “Fico aliviado em saber que os criminosos estão presos, graças ao excelente trabalho da Polícia Federal. Seguiremos fazendo nosso trabalho com responsabilidade, priorizando nossa vida e com foco no interesse público”, disse o jornalista.

 

Providências urgentes

O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul – SindJoRS, assim que foi informado do caso, acionou a Federação Nacional do Jornalistas – Fenaj e disponibilizou ao jornalista, num primeiro momento, o Tornavoz e Rede de Proteção. O caso expõe o perigo a que estão expostos repórteres que exercem o ofício de lançar à luz o que delinquentes querem manter em segredo. Imprensa livre, feita por profissionais qualificados, tem a função social de serviço à população. Para a presidenta do SindJoRS, Laura Santos Rocha, “não podemos admitir que, em pleno ano de 2023, colegas jornalistas ainda sejam intimidados no exercício profissional. Queremos a apuração dos fatos e a punição aos envolvidos nesse crime hediondo. Vamos procurar a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública para garantir o direito básico da nossa profissão de bem informar a sociedade sem precisar ter receio das consequências de oferecer um bom trabalho”.

 

Federação Nacional de Jornalistas – Fenaj

Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul – SindJoRS