Foto de Vera Spolidoro, juntamente com seu filho Nicola, de 10 anos, à época. “Adorava ir à redação comigo”, diz Vera. Participação em reuniões e protestos pelo fechamento do Diário do Sul. Na época os jornalistas que trabalhavam no DS realizavam, entre outras manifestações, o cortejo de enterro simbólico com caixão pela Rua da Praia, que seguia até a rua Sete de Setembro, onde era a sede da redação do jornal.

 

O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) destaca, nesta entrevista especial comemorativa dos 80 anos, a jornalista Vera Maria Spolidoro de Cuadrado. Vera é filha de Ignez e Ângelo Spolidoro e nasceu em Veranópolis, Rio Grande do Sul. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1968, fez história no sindicalismo gaúcho ao ser a primeira mulher a presidir o SindJoRS, em 1986, e exercer esta função por dois mandatos consecutivos.

 

Como assessora de comunicação exerceu suas atividades na Federação das Indústrias do RS, na prefeitura Municipal de Porto Alegre, nos ministérios de Relações Institucionais e Justiça em Brasília, como também foi secretária de Comunicação Social e Inclusão Digital do Governo do Estado do RS. Spolidoro trabalhou também nos jornais Diário do Sul, O Sul, Sul21 e Jornal do Comércio. Conhecida, admirada e respeitada por participar ativamente da vida política e sindical gaúcha, como também nacional, Vera nos conta um pouco da sua história como jornalista e líder sindical.

 

 
SINDJORS: Como o jornalismo entrou na história de vida da Vera?

VERA SPOLIDORO: Meu avô trabalhava no Correio do Povo, na distribuição dos jornais, e sempre trazia para casa os exemplares do dia. À noite, com um copo de vinho, ficava lendo o jornal. Eu o acompanhava não na leitura, mas no prazer de manusear o papel e observá-lo, comentando as notícias. Meu pai herdou o mesmo gosto e em casa sempre tínhamos o Correio, o Diário de Notícias e às vezes, a Folha da Tarde. Quando chegou a época de escolher a profissão, não tive dúvidas. Só fiquei longe um tempo, quando me casei e fomos morar em Montevidéu. Em 1971, na volta a Porto Alegre, retomei a profissão e dei continuidade, com meus três filhos (Gabriela, Ângela e Nicola) sempre acompanhando meu trabalho.

 

SINDJORS: Poderia nos contar um pouco do teu trabalho como jornalista?

VERA SPOLIDORO: Minha atividade como jornalista sempre esteve relacionada aos veículos impressos e à assessoria de imprensa. Comecei no Jornal do Comércio, com uma coluna mantida por um cursinho pré-vestibular cujo dono era meu amigo. Depois fiz assessoria de imprensa na Federação das Indústrias por muitos anos, onde também redigi e editei um jornal da própria entidade. Mais tarde, quando surgiu o Diário do Sul, fui convidada para editar a página de Economia. Este jornal marcou época, embora tenha tido vida curta. Era um standard, com matérias amplas e fotos grandes. O diretor era Helio Gama, o chefe de redação era Delmo Moreira e a editora de fotos era Jacqueline Joner. O proprietário morava em São Paulo, e não conseguiu manter o jornalão, com os gaúchos já acostumados com jornais como a Zero Hora, a Folha da Tarde, a Folha da Manhã e outros. O próprio Correio do Povo, standard tradicional, já tinha sido fechado pelo seu proprietário, Breno Caldas. Participei também da criação do Sul21, veículo redigido, editado e distribuído pela internet, e mantive uma coluna diária no jornal O Sul. Na área de assessoria de imprensa, trabalhei ainda no governo federal (Secretaria Institucional da Presidência da República e Ministério da Justiça), no governo estadual, onde ocupei o cargo de secretária de Comunicação e Inclusão Digital, e na Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

 

SINDJORS: Você foi a primeira mulher a ocupar o posto de presidente do no SindJoRS. Pode nos contar como foi exercer esta importante função e qual a sua visão sobre o trabalho dos sindicatos?

VERA SPOLIDORO: Comecei como tesoureira do Sindicato, e depois fui presidente por dois mandatos. Foi uma experiência fundamental na minha vida. Tanto pelo relacionamento com a categoria, como com o Sindicato dos Radialistas, já que tínhamos o propósito de unir jornalistas e radialistas. As greves, o nosso movimento nas ruas, as barreiras na porta dos veículos para impedir a entrada dos fura-greves, as visitas às redações, as assembleias da categoria que precisávamos fazer no auditório do Sindicato dos Bancários, já que no nosso sindicato não havia lugar para tanta gente. Tudo ficou muito marcado e inesquecível.

 

SINDJORS: Uma vez mais os jornalistas estão lutando por seus direitos e pela votação da PEC do diploma. Poderia comentar qual é a sua visão sobre este assunto?

VERA SPOLIDORO: Essa é uma luta que ressurge a cada tanto. Quando estive na presidência do Sindicato, também houve uma tentativa de não exigência de curso superior para exercer a função de jornalista. Os empresários preferem pagar menos para não diplomados, embora a qualidade do noticiário possa cair. Sempre foi uma disputa entre Sindicatos, o nosso e o dos empresários. A cada ano, precisávamos negociar à exaustão para que conquistas históricas, como o diploma, não desaparecessem. Lamentavelmente, agora a proposta ressurge, mas certamente será derrotada de novo.

 

SINDJORS: Na sua opinião qual será o futuro do sindicalismo e do jornalismo no Brasil?

VERA SPOLIDORO: Gostaria muito de estar equivocada, mas vejo que, a partir das novas tecnologias, o mundo do trabalho e dos jornalistas está mudando para pior. As redações, com a característica de reunir trabalhadores, estão sendo substituídas pela atividade remota, mal paga e com exigências abusivas. Isso tem reflexo no sindicalismo, embora haja uma luta diária, como vejo acontecer no nosso Sindicato, sob a liderança da Laura Santos Rocha e toda uma direção comprometida e atuante.

 

Texto: Mônica Cabanas/Diretoria SindJoRS | Foto cedida por Vera Spolidoro