Com provável realização em janeiro de 2021, o próximo Fórum Social Mundial será na Cidade do México. Convocado e co-organizado por diferentes entidades, sua autoridade máxima é uma mulher: Rosy Zúñiga é secretária-geral da Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (CEAAL), organização responsável por preparar o encontro global dos seguidores do lema “um outro mundo é possível”.

 

Sua maior preocupação é construir uma metodologia que permita que os movimentos conversem entre si – seguindo o diagnóstico feito para o 2º Fórum das Resistências, que se encerrou neste final de semana em Porto Alegre, onde também se reuniram os integrantes do comitê internacional.

 

“Algo que temos visto é a necessidade de como gerar espaços de diálogos transversais, articular todos os eixos. Isso implica pensar a melhor estratégia metodológica para que isso suceda. Aqui (em Porto Alegre) há tantas atividades e algumas se sobrepõem, o que às vezes resulta complexo para que possamos nos escutar todos uns aos outros”, explica Zúñiga.

 

Para ela, está claro que se todos falarem ao mesmo tempo, ninguém vai se ouvir. Por outro lado, ela reconhece a absoluta necessidade de que todos os grupos tenham seus espaços de manifestação: “Há muita necessidade abordar suas problemáticas específicas”.

 

A saída foi incluir no processo preparatório encontros prévios, tanto virtuais como “cara a cara”, e que sejam ao mesmo tempo divididos territorialmente e também por eixo. “Estamos iniciando encontros on-line com temáticas como mulheres, mudanças climáticas, economia solidária. E queremos interconectar com os diferentes fóruns para que isso circule e se torne mais orgânico e articulado”, revela.

 

“Que ninguém fique de fora, que ninguém se sinta excluído, que todos possamos participar e que sejamos assertivos. Vamos fazer um trabalho solidário e conjunto Esse é o grande desafio: que possamos nos encontrar, nos olharmos e nos reconhecermos”, conclui a mexicana.

 

Fórum das Resistências encerra com pés em Porto Alegre e cabeça no mundo

 

O 2º Fórum Social das Resistências se encerrou no domingo, 26, em Porto Alegre, com a reunião do comitê internacional que prepara as próximas atividades do evento – apenas para este ano, estão previstas as realizações do Fórum Social Pan-amazônico, na Colômbia, o evento A Economia de Francisco, em Assis, na Itália, o Fórum das Economias de Transformação, em Barcelona, e o Fórum das Migrações, no Marrocos.

 

No sábado, o último evento público foi com a Chamada Global contra a Guerra (dos Estados Unidos contra o Irã), que somou esforços com movimentos que organizaram ações em várias partes do mundo, chamando atenção para o tema. Em Porto Alegre, o ato ocorreu de forma simultânea e compartilhada com outros protestos: um em solidariedade às vítimas de Brumadinho, organizado pela Marcha Mundial por Justiça Climática, e uma mobilização contra a instalação da Mina Guaíba, para exploração de carvão mineral em Eldorado do Sul, na região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul.

 

A convergência das temáticas no penúltimo dia de atividades foi uma síntese dos propósitos da edição 2020 evento: unificar movimentos e bandeiras específicas em uma agenda comum, que permita cumprir o propósito expresso no nome do fórum, manter a resistência organizada e alerta. Também chamou a atenção a convergência de reivindicações hiper locais, como o questionamento à Mina Guaíba, nacionais (Brumadinho) e globais, caso da intensificação das tensões entre Irã e Estados Unidos.

 

Mauri Cruz, diretor da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), uma das entidades organizadoras do evento, reforçou que, embora este não tenha sido um fórum mundial, a lógica foi debater questões sociais e ambientais que afetam o Brasil e o mundo.

 

“Temos que fazer essa conexão através da troca de experiências, para construirmos uma rede de solidariedade e apoio mútuo, porque muitas vezes os responsáveis pelas violações são os mesmos em todas as partes, os governos e o sistema empresarial. Então, a partir daí, procuramos ações em comum, coletivas, para que a gente fortaleça a resistência e evite essa retirada de direitos e esse retrocesso democrático que acontece em vários locais”, afirma Cruz.

 

A presença de pessoas de vários estados e de outros países surpreendeu o secretário da CUT-RS e integrante do Comitê Local do Fórum Social Mundial, Claudir Nespolo: “Foi um fórum de caráter regional, mas com participações e temas de interesse para todo o Brasil e até para o mundo”, observou.

 

“Realizamos excelentes debates sobre temas como previdência, emprego, trabalho e assistência social e comemoramos a manutenção das aposentadorias longe do sistema de capitalização. As organizações sociais e os sindicatos saem fortalecidos e prontos para tentar blindar a carteira de trabalho verde e amarela, com o que nós não concordamos em hipótese alguma”, apontou.

 

Relatório vai sintetizar atividades de convergência

 

Ao longo de cinco dias, o Fórum das Resistências realizou em torno de 60 atividades, entre debates e apresentações. O destaque foram para as 14 assembleias de convergência que reuniram diferentes movimentos sociais na busca de uma pauta de ação comum, capaz de unificar bandeiras específicas – migração, terra e moradia, povos tradicionais, racismo, trabalho, saúde, assistência e seguridade social e democracia, por exemplo.

 

“As atividades de convergência produziram documentos com estratégias e agendas de luta bastante consistentes que agora vamos sintetizar em um relatório”, antecipou à Carta Maior o advogado Mauri Cruz, diretor da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), uma das entidades organizadoras do evento.

 

Isso porque, no dia programado para a apresentação dos resultados de cada uma das mesas de debate, durante a Assembleia dos Povos, a leitura dos relatores ficou comprometida por protestos que esvaziaram o auditório. O movimento do hip-hop reclamou da falta de organização, atrasos problemas de infraestrutura para artistas.

 

“Temos que lembrar que o fórum foi realizado sem recursos públicos ou cooperação financeira internacional; foram as próprias organizações que financiaram a vinda de seus representantes. Isso impactou na infraestrutura também: conseguimos mobilizar apoio para transporte terrestre, e tivemos algum apoio de hospedagem solidária e para alimentação. E mesmo assim mantivemos uma agenda cultural em todas as atividades de convergência”, explica o diretor da Abong.

 

Fonte: CUT-RS/Cleber Dioni Tentardini-Carta Maior