No Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, manifestantes que pedem intervenção militar tentam impedir trabalho da imprensa

 

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul – Sindjors – vem a público repudiar com veemência os ataques sofridos por, pelo menos, três jornalistas da capital, que foram impedidos de exercer seu direito ao trabalho. Durante esta quarta-feira (02/11), equipes da Tv Bandeirantes, RecordTV RS e do SBT foram hostilizadas pelos manifestantes que se concentravam no Centro Histórico de Porto Alegre, protestando contra a derrota do atual presidente Jair Bolsonaro, no pleito de 2022. Entre palavras de ordem como intervenção militar e a inconformidade com o resultado das eleições, bolsonaristas abusaram do direito à manifestação, com atos antidemocráticos. E isso só retifica o relatório de 2021 da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas – sobre Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil. No ano passado, foram 18 casos de agressões a jornalistas, na Região Sul, representando 6,06% do total (430 casos). O Rio Grande do Sul foi o segundo Estado da região com mais casos.

 

Durante as abordagens deste feriado de Finados, manifestantes agrediram verbal e fisicamente os e as integrantes das equipes, ameaçaram e expulsaram os e as profissionais das áreas de manifestação. Desde o domingo à noite, assim que foi confirmada a vitória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para liderar o país a partir de 1º de janeiro de 2023, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro tomaram rodovias e ruas de diversas cidades em quase todos os Estados do país. Nas estradas, caminhões e carros formavam barricadas para impedir a passagem, e fogo era ateado em pneus. Com a ordem do ministro Alexandre Moraes, para que fossem desobstruídas as vias, a hostilidade dos manifestantes ficou ainda mais intensa e agressiva.

 

TV BANDEIRANTES RS

A equipe do repórter Matheus Goulart, Moisés e Rogério, estava gravando a manifestação, nesta quarta-feira (02/11), na esquina da Rua dos Andradas com a Bento Martins, no Centro Histórico, quando um homem com a camiseta do presidente Jair Bolsonaro entrou no “círculo” em que estavam os profissionais e, por trás, começou a dar socos, de acordo com o relato do repórter. Atingiu a nuca do Rogério, o rosto do Moisés, que caiu no chão, quebrando o equipamento (microfone direcional, lapela, luz). Assim que foi indagado por quê das agressões, o homem fugiu. Foi encontrado embaixo da estrutura da Casa de Cultura Mário Quintana, onde algumas pessoas que testemunharam a agressão, o imobilizavam, aguardando o policiamento. Em nova fuga, o homem foi pego por agentes da Brigada Militar, na esquina da rua João Manoel com a Andradas. A equipe foi atendida no Hospital de Pronto Socorro, com ferimentos leves.

 

RECORDTV RS

A repórter Daiane Dalle Tese e equipe, composta ainda pelo cinegrafista Adilson Corrêa e o auxiliar Flávio dos Santos chegaram para a cobertura da manifestação, no Centro Histórico de Porto Alegre, também nesta quarta-feira. Foi impedida de trabalhar, diante de intimidação de dois homens que aparecem com clareza em vídeo que registrou a tentativa de agressão. Claramente os profissionais da RecordTV RS são expulsos do local, recebendo palavras agressivas, sendo encurralados dentro do carro da emissora e obrigados a abandonar a cobertura dos protestos, tendo cerceado o direito à informação e à livre produção e divulgação de informações jornalísticas. No vídeo é possível ver que outros manifestantes se dirigiam à equipe, que se aproximava do carro, para pressionar a retirada.

 

SBT RS

No mesmo dia (02/11), a equipe do SBT, formada pelo repórter Lucas Abati e pelo cinegrafista Cristiano Mazoni, foi hostilizada e convidada a deixar a cobertura da manifestação contra o resultado das urnas, ocorrida também no Centro de Porto Alegre. A equipe estava próxima aos manifestantes e chegou a entrar ao vivo no jornal SBT Rio Grande. A edição usou a expressão “manifestação antidemocrática” para se referir à mobilização. O print da tela com a frase circulou em grupos bolsonaristas e chegou às pessoas que estavam próximas à equipe. Um grupo considerável de manifestantes cercou os profissionais do SBT, questionando sobre o uso da expressão. Um dos homens chegou a dar um tapa nas costas do repórter. Receosa, a equipe se retirou do local.

 

O Sindjors, em hipótese alguma, vai admitir que agressões desse tipo sejam feitas contra os profissionais que estão exercendo seu direito ao trabalho, que é informar e levar as notícias à população. Para a presidenta Laura Santos Rocha “é inegável que os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro, com constantes ataques à imprensa, criou um clima hostil também da parte dos apoiadores do atual presidente, que agem de forma perversa, desrespeitando o resultado democrático das urnas. Quando pedem intervenção militar, custa-nos a crer que saibam o que estão pedindo. Não podemos permitir que um período tão nefasto da vida brasileira seja sequer cogitado a retornar. Estamos atentos e vamos tomar todas as medidas cabíveis para terminar com essa prática violenta. Estamos encaminhando ofícios às autoridades de segurança pública para que investiguem e punam os responsáveis por mais esse ataque à imprensa, além de garantirem a segurança da imprensa no exercício de sua função”.

 

COMO DENUNCIAR

Em casos de ameaças ou agressão, seja verbal ou física, é importante que o profissional registre um Boletim de Ocorrência, como fizeram os profissionais agredidos hoje, na delegacia mais próxima, e procure o Sindicato da sua região. A denúncia é a melhor arma para combater esse tipo de crime. No Rio Grande do Sul, o Sindjors fica na Rua dos Andradas, 1270 sala 133, 13º andar. O telefone é (51) 3228.146 e o e-mail: secretaria@jornalistas-rs.org.br. Plantão: (51) 99174.3053 e (51) 99956.9295.

 

Texto: Carla Seabra/Diretoria Sindjors

 

Assista ao vídeo da jornalista Daiane Dalle Tese, da RecordTV, clicando aqui.

 

NOTAS DAS EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO