Regina Pires, jornalista – (crédito: Arquivo pessoal)
Com passagens pelos principais veículos de comunicação do país, entre eles, o Correio Braziliense, e por diversas assessorias de imprensa dos setores público e privado, a gaúcha de Taquara deixa dois filhos e uma legião de amigos
O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) reproduz, abaixo, o texto do colega Vicente Nunes — Correspondente do Correio Braziliense – como homenagem à jornalista Regina Pires. Nossa colega de diretoria, Mônica Cabañas, comentou: “Conheci Regina no tempo em que trabalhei em Brasília e ela era uma linda pessoa que se preocupava com a causa animal e com a causa humana além de excelente profissional”. Nossos sentimentos para a família, amigas, amigos e colegas dessa importante profissional.
A voz suave, o sorriso escancarado e aqueles olhos azuis brilhantes causavam um encantamento. Era impossível não se render àquela pessoa que abraçava com conforto, mesmo a um metro de distância. Somente a presença dela por perto era suficiente para tranquilizar o ambiente. Uma amiga da qual todos, sem exceção, queriam ouvir um conselho, uma opinião, uma crítica construtiva. Assim era a jornalista Regina Pires, gaúcha de Taquara, que construiu uma carreira expressiva em alguns dos principais veículos de comunicação do país, entre eles, o Correio Braziliense e a Gazeta Mercantil, e na assessoria de imprensa dos setores público e privado.
Regina Pires, 65 anos, morreu neste sábado (2/3) em casa, ao lado das pessoas que ela mais amava, os filhos Ada e Leo. Ela tinha um câncer de mama, com o qual lutava havia anos. Uma guerreira que, enquanto teve forças, não se intimidou ante a doença. Os amigos e os familiares que acompanharam todo o processo de tratamento jamais viram a jornalista se lamentar. Muito pelo contrário. Ela sempre passava uma força que impressionava. Essa mesma força ela usava para cuidar de animais abandonados. São muitas as histórias contadas por amigos de que Regina os obrigava a parar o carro em estradas, quando estavam viajando, para socorrer um gato ou um cachorro em perigo.
A amiga Ana Fonseca, que conheceu Regina há 37 anos na redação do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, define bem a jornalista: “Era uma pessoa adorável”. Nesses anos todos de amizade, elas nunca se separaram, mesmo estado longe fisicamente. “A Regina era aquela pessoa doce, suave. Tivemos um elo de amizade muito bonito. Uma participava da vida da outra, trocávamos histórias sobre os filhos. A gente se entendia até pelo olhar”, diz. A jornalista Adriana Fernandes lembra do cuidado enorme que Regina tinha com as pessoas e os animais. “Esse cuidado era uma demonstração do coração generoso dela. Em Brasília, tínhamos um grupo que estava junto há mais de duas décadas. Vamos todos sentir muita saudade”, afirma.
Foram muitos os bons momentos vividos ao lado de Regina, ressalta a amiga e jornalista Sheila D’Amorim. “Curiosa, questionadora, teimosa e apaixonada. Apaixonada pela vida, pelo trabalho, pelos filhos. Intensa. Tudo na vida da Regina tinha que valer a pena”, descreve. “E ela se entregava. Era incansável. E, com a alegria de uma foca, como chamamos o jornalista iniciante, ela se divertia diariamente, mesmo após mais de 30 anos em redações. E ainda alegrava quem estava por perto”, complementa. Para Sheila, debater com Regina era sempre um desafio porque o debate podia não acabar nunca. “Você é tão teimosa, amiga”, costumava dizer a jornalista, gargalhando na sequência, pois sabia que, nesse quesito, ninguém a vencia.
Para Sheila, a veia questionadora de Regina inspirava a todos com quem ela convivia. “Me obrigava a pensar mais sobre um tema, a refinar argumentos. Regina deve ter nascido jornalista. A vida apenas lapidou essa persona nela”, frisa. “Partilhar coberturas jornalísticas com a Regina foi sempre uma diversão. Isso, mesmo considerando que ela sempre transitou por áreas bem áridas: Banco Central, Ministério da Fazenda, mercado financeiro, Bolsa de Valores. Mas ela conseguia dar leveza a uma jornada dura e cansativa, como é a dessas coberturas jornalísticas”, afirma. E complementa: “Tive o privilégio de aprender com ela, de tocarmos grandes projetos juntas. Para mim, Regina era daquelas pessoas que a gente sempre quer por perto. Afinal, ela trazia junto ética, compromisso, competência, inteligência, amizade e equilíbrio. Agora, ela foi descansar. Mas, de alguma forma, em algum lugar, estará questionando alguém sempre”.
O amigo Miguel Bueno, que foi estagiário de Regina no Jornal do Commercio, conta que, no primeiro dia em que encontrou jornalista, teve a certeza de que se tratava de uma pessoa muito especial. “Amiga, forte, única e engraçada. Não por acaso nos tornamos amigos. Tenho certeza de que fará enorme diferença no outro lado da vida. Agradeço por tudo que ela nos deixou”, diz. Jorge Marques, que sempre se preocupava em fazer um prato especial para Regina, já que ela era vegana, quando ele chamava os amigos para almoçar, ressalta a grandeza da amiga perante a vida. “Ela sempre tinha uma disposição enorme para enfrentar as adversidades. E nunca se curvava. Também distribuía carinho e atenção, coisas raras hoje em dia”, destaca.
Ex-ministro das Cidades e ex-presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO), com quem Regina trabalhou, Márcio Fortes diz que perder a jornalista e amiga é um golpe muito duro, muito difícil de aceitar, mesmo sabendo-se as inexoráveis regras da vida. “Mais que minha brilhante assessora de imprensa por muitos anos, Regina foi uma grande e querida amiga. Sempre apreciei Regina e o casal de filhos dela, os cachorros e os gatos de estimação, que, em conjunto, formavam um mundo único, de carinho e dedicação”, assinala. “Simples, inteligente, comunicativa, deixou positivos e sólidos relacionamentos por onde passou nos diversos níveis do ambiente da imprensa. Fica o adeus, que as lembranças jamais deixarão apagar.”
Para a jornalista Edna Simão, com quem Regina sempre estava disposta a tomar um café mesmo no aperto do trabalho, não consegue esquecer aquele sorriso largo da amiga. “Era uma pessoa excepcional e uma profissional de primeira”, assinala. “Tanto nos jornais nos quais trabalhou, quanto nas muitas assessorias de imprensa que chefiou no governo e no setor privado, conseguiu imprimir a marca dela, da ética e da transparência”, acrescenta. Edna e os amigos ressaltam ainda o quanto era bom sentar à mesa para saborear os quitutes preparador por Regina. “Eram momentos para celebrar a vida. Agora, celebramos a felicidade de ter tido essa amiga em nossas existências”.
O corpo de Regina será cremado em cerimônia reservada à família, como era desejo dela.
Texto: Vicente Nunes — Correspondente Correio Braziliense