Em artigo inédito e exclusivo para o jornal O Povo, a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, afirma que “é preciso dar um basta à violência contra jornalistas”. O texto foi veiculado na edição on-line e impressa do periódico cearense desta quinta-feira (13/10), um dia após equipes de emissoras de televisão terem sido hostilizadas por apoiadores do presidente da República em Aparecida/SP.
Leia o artigo na íntegra:
É preciso dar um basta à violência contra jornalistas
Em situações normais, o Jornalismo não é, nem poderia ser, uma profissão de risco. Mas no Brasil, nos últimos anos, a violência contra profissionais é preocupação constante e crescente da categoria. Prova de que o Jornalismo e a própria democracia estão sob forte ataque. E essa gravíssima situação chegou ao ápice. Precisamos dizer basta!
Jornalistas são agredidos pelo poder de Estado, notadamente pela Polícia Militar, sobretudo em coberturas de conflitos sociais, o que tem deixado algumas vezes graves sequelas. Jornalistas são perseguidos judicialmente, e aí se inclui infelizmente até mesmo o Supremo Tribunal Federal. Jornalistas são agredidos por “manifestantes” de diversos matizes, a partir do agravamento das tensões políticas no país.
E, desde 2019, os jornalistas são agredidos principalmente pelo chefe de Estado no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro. Os números deixam clara esta situação. Relatório anual da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) mostra uma espantosa progressão recente: passamos de 135 agressões, em 2018, para 430 em 2021!
Com Bolsonaro no governo, há três vezes mais agressões a jornalistas do que havia antes. É mais do que uma por dia! Desde que chegou à Presidência, ele é o principal agressor: em 2021, Bolsonaro realizou 147 agressões a jornalistas, 34% do total nacional.
Este cenário de extrema gravidade é confirmado por todas as entidades que fazem este tipo de acompanhamento. A Abraji registrou 353 ataques a jornalistas do início deste ano até a semana passada. E no ambiente conflagrado das redes sociais, a organização Repórteres sem Fronteiras contabiliza, no primeiro mês de campanha eleitoral, mais de 2 milhões e 800 mil postagens com conteúdos ofensivos e agressivos contra jornalistas brasileiros.
O Jornalismo não poderia ser, de forma alguma, uma profissão de risco. Portanto, não podemos naturalizar esta situação infame. Precisamos da necessária resposta da sociedade. Porque quando se cala um operário ou operária da notícia – seja por intimidação, ação judicial, agressão física ou mesmo a morte – é o direito de ser informada que a sociedade perde. E perde também a democracia.
Samira de Castro
Presidenta da FENAJ
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