Fonte: Alexandre Haubrich – Brasil de Fato | Edição: Marcelo Ferreira

 

O Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul (Sintrajufe/RS) realizou na noite dessa quarta-feira, 30, a primeira edição de 2019 do Conversas Impertinentes, com o debate “Mídia e Democracia”. A atividade ocorreu no Salão Multicultural Alê Junqueira, na sede do sindicato, com três painelistas: o jornalista e escritor Juremir Machado, colunista do jornal Correio do Povo e apresentador do programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba; o também jornalista e escritor Moisés Mendes, colunista do jornal Extraclasse e do Diário do Centro do Mundo (DCM), ex-repórter, editor e colunista do jornal Zero Hora; e a jornalista Vera Daisy Barcellos, presidenta do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (Sindjors). Dezenas de colegas e interessados de fora da categoria encheram o espaço, reconhecendo a importância de debater o tema.

 

Paulinho Oliveira, diretor do Sintrajufe/RS, coordenou a mesa

 

O diretor do Sintrajufe/RS Paulinho Oliveira coordenou a mesa. Na abertura, destacou a retomada do projeto Conversas Impertinentes e a importância de trazer grandes temas para debate em um momento como o atual, com a democracia cada vez mais sob ameaça. Paulinho defendeu que não basta a resistência, “é preciso preparar ação, entrar nessa cena não só com as pautas da categoria, mas com as pautas de toda a sociedade”. Sobre o tema do debate da noite, lembrou que é preciso que a categoria esteja preparada para disputar narrativas na defesa do serviço público e dos direitos dos trabalhadores.

 

Pluralidade na mídia e união na luta

A primeira painelista a falar foi Vera Daysi Barcellos. Ela começou destacando sua posição de mulher negra, feminista e militante. Ressaltou que seria a partir dessa posição que faria sua fala e, então, fez coro à defesa de Paulinho: é preciso ações coletivas para mudar a situação que se apresenta no país. Lamentou, em seguida, as perseguições a jornalistas e à liberdade de imprensa e de expressão neste momento, com a percepção de que vivemos um período antidemocrático que afeta todos os setores, inclusive a cultura e a comunicação. Vera lembrou a realização da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009, fruto de muita mobilização da sociedade civil, exemplo de que é possível construir ações coletivas. Porém, conforme a painelista, a falta da concretização das propostas em ações de governo permitiu que chegássemos à conjuntura midiática de hoje, com alta concentração dos meios de comunicação.

 

Para Vera Daysi, é necessário ir além do espaço de militância, “ir ao encontro dos outros segmentos”

 

Vera afirmou que a comunicação deve ser defendida como um direito humano fundamental e recordou que uma das pautas centrais da Confecom foi a pluralidade do acesso aos meios de comunicação, justamente no sentido de “efetivação das vozes nos processos democráticos de discussão”. Para além da comunicação – e também em sua construção – precisamos estar juntos, apontou a jornalista e sindicalista: “temos que sair do espaço onde estamos militando, ir ao encontro dos outros segmentos. Se não fizermos isso, seremos tragados”.

 

Estimular o contraditório

Logo depois, quem falou foi Juremir Machado. Na abertura de sua fala, citou o “caso do porteiro do Bolsonaro”, denunciado pelo Jornal Nacional na véspera e que poderia ligar o presidente ao assassinato de Marielle Franco. Juremir discutiu o tema do ponto de vista jornalístico, defendendo a divulgação da matéria pela Rede Globo pela relevância da citação do nome presidente em um caso como esse. Por outro lado, questionou os constantes vazamentos de informações para a Rede Globo por agentes públicos e defendeu que deve haver o máximo cuidado com as informações. “O jornalismo, em tempos sombrios, tem que ter ainda mais responsabilidade”, disse Juremir, explicando que a sociedade espera muito do jornalismo e que não se pode “fazer gol contra”.

 

Juremir: “O jornalismo, em tempos sombrios, tem que ter ainda mais responsabilidade”

 

Ao mesmo tempo, em tempos sombrios, o jornalista deve seguir alguns preceitos: precisa saber dizer “não”, precisa persistir sempre e precisa manter a lucidez. “Quando não se tem mais nada a fazer, nos resta a ironia”, disse o jornalista, acrescentando que, em tempos como os de hoje, deve fomentar a diversidade, “principalmente abrindo espaço para o contraditório”, estimular o argumento e o contra-argumento. Juremir lembrou que há um outro tema, da posição dos meios de comunicação, das empresas. Mas, da parte do jornalista, é preciso estimular o debate. Ouvir os múltiplos lados, defendeu, é o que nos faz avançar.

 

A importância de se construírem meios de comunicação alternativos

Por fim, fez sua explanação o jornalista Moisés Mendes. Ele levantou questionamentos sobre o papel dos jornalistas e da mídia em um contexto difícil como o de hoje. Para Moisés, não há no Brasil uma imprensa alternativa, de esquerda, como existia nos anos 1970. Esse é um déficit que precisa ser encarado, defendeu. Conforme o jornalista, “não vamos ter democracia se não tivermos uma imprensa alternativa forte”. Nesse sentido, apontou, o debate é parte da função do jornalismo, na busca pela verdade, pela informação correta. Mas, para Moisés, debate é importante quando temos uma situação de igualdade, ao contrário do que acontece hoje, quando há um controle político por parte da direita: “estamos em uma situação de desigualdade tão grande que não temos na esquerda capacidade de competir com o controle da direita”.

 

Moisés apontou a importância de construir meios de comunicação de esquerda

 

Moisés sublinhou o papel da imprensa alternativa no combate à ditadura, abordando temas proibidos e forçando a grande imprensa a abordá-los também. “Hoje não temos esse contraponto”, lamentou, citando a seguir alguns exemplos de importantes veículos de mídia alternativa que, embora façam bons trabalhos, não fazem cobertura do dia a dia, de forma que não conseguem competir na disputa de informação. “Por que nos fragmentamos e não conseguimos construir uma grande mídia de esquerda?”, questionou. Ao final de sua fala, Moisés ressaltou a importância da leitura e da formação que vá além das redes sociais e da internet, de maneira que, especialmente a juventude, possa avançar em organização e luta coletiva. Para isso, apontou, é importante construir meios de comunicação assumidamente de esquerda, que façam a disputa política pelo lado do povo.

 

Debate

Após as exposições da painelista e dos painelistas, foi aberto espaço para falas do público. Nesse momento, estiveram em pauta variadas perspectivas e olhares sobre o tema do painel. Passaram pelo microfone a necessidade de construir meios de comunicação nas bases, assim como a importância de disputar as narrativas em todos os espaços possíveis. A busca por formar cidadãos conscientes e ativos também foi colocada em questão, bem como críticas à falta de isenção do Judiciário e à falta de honestidade da grande mídia, déficits esses apontados como entraves à democracia brasileira. Nesse sentido, apontaram a relevância da luta pela democratização da mídia e, assim, a importância de debates como o dessa edição do Conversas Impertinentes. Vera, Moisés e Juremir, ao final, comentaram os apontamentos do público e finalizaram reforçando a urgência de construir novas alternativas de mídia, disputar espaços e narrativas e enfrentar coletivamente os ataques do governo Bolsonaro e as narrativas que atuam contra os interesses da maioria da população.

Assista à transmissão da atividade

 

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