A diferenciação de reajuste entre capital e interior, proposta pelos patrões, foi derrubada pelo Sindjors, numa negociação que se aproximou a um jogo de xadrez

 

No último dia 23 de julho, foi solicitado registro, junto ao Ministério da Economia, da Convenção Coletiva de Trabalho 2021/2022 dos Jornalistas, assinada pelos Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS – Sindjors; Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do RS – SindRádio; e Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas RS – Sindijore RS, depois de uma negociação difícil, que durou cerca de três meses. O resultado, embora não seja o ideal – reivindicado, na primeira mesa de negociação, pelo Sindjors, resultou excelente, diante do cenário econômico atual e dos demais acordos realizadas pelos jornalistas em outros Estados brasileiros.

 

De acordo com o DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, 60% dos reajustes salariais de abril ficaram abaixo do necessário para a reposição da inflação. A variação real média dos reajustes, descontada a inflação, foi de menos 0,56%, até abril deste ano.  No Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, os jornalistas de rádio e tevê terão reajuste salarial de 2,7% sobre salários e benefícios, a ser pago na folha de junho, e as diferenças retroativas à data-base (1º de fevereiro) serão pagas em até quatro parcelas, o que não acontecia há muito. No Estado de São Paulo, indignados com a proposta patronal de reajuste de R$ 101 nos salários, os jornalistas redigiram uma carta aberta às empresas, durante a campanha salarial em curso. Diante de uma inflação oficial de 8,9%, no período entre junho de 2020 e maio de 2021, a proposta das empresas foi de promover um reajuste de 3% para quem recebe o piso e R$ 101 de valor fixo para os demais salários. A reivindicação dos jornalistas era um reajuste salarial de 11,9% (considerando a inflação, de 8,9%, mais aumento real de 3%).

 

Jogo de Xadrez

As mesas de negociações, por aqui, começaram ainda em maio, no dia 25, quando o Sindjors apresentou a proposta de reposição de 100% da variação do INPC, mais reajuste real, totalizando 10%, para toda a categoria. A contraproposta da patronal foi de 100% do INPC em duas parcelas – 50% em 1º de junho de 2021 e 50% em 1º de janeiro de 2022. Para o reajuste salarial foi oferecido 80% para salários até R$ 4 mil (50% em 1º de junho de 2021 e 30% em 1º de janeiro de 2022) e 60% para salários acima de R$ 4 mil (50% em 1º de junho de 2021 e 10% em 1º de janeiro de 2022). O Sindjors não aceitou e propôs que a CCT atual, com validade até 30 de junho de 2021, fosse prorrogada até 31 de julho, para garantir os direitos adquiridos, durante o tempo de negociação, que, tudo indicava, seria longo. Foi a primeira vitória do Sindjors.

 

Na terceira mesa de negociação, a contraproposta foi de 100% do INPC para reposição do piso e, como reajuste, 100% do INPC em duas parcelas (60% em 1º junho 2021 e 40% em 1º janeiro 2022) para todos com salários até R$ 8.000,00. E, ainda, 80% do INPC em duas parcelas (60% em 1º de junho de 2021 e 20% em janeiro de 2022) para quem ganhasse acima de R$ 8.000,00. A patronal não aceitou. O INPC, no período, estava definido em 8,90%.

 

Derrubada a tentativa de penalizar os jornalistas do interior

Em nova mesa de negociação, a proposta dos patrões penalizava os jornalistas do interior do Estado, achatando ainda mais os salários dos profissionais, cujo piso já é 15% mais baixo que o da capital. A reposição de 100% do INPC para o piso, em duas vezes, estava mantida; no entanto, para os reajustes: para a capital, pagariam 80% do INPC, para quem recebesse salários acima do piso até R$ 4 mil, em duas parcelas; mais 60% do INPC, para quem recebesse salários acima de R$ 4 mil, também em duas parcelas; e, para o interior do Estado, 80% do INPC para quem recebesse salários acima do piso até R$ 3.400,00, em duas parcelas; e 60% do INPC, para quem recebesse salários superiores a R$ 3.400,00, em duas parcelas. Na ocasião, a presidenta do Sindjors, Vera Daisy Barcellos, disse que não aceitaria, de forma alguma, que os colegas do interior fossem penalizados com a diferenciação nos cortes de reajuste.

 

Mais uma vitória dos Jornalistas

Com a reação da diretoria do Sindjors, os representantes do Sindijore RS e do SindRádio voltaram atrás e aceitaram que o reajuste dos salários para jornalistas da capital e do interior permanecesse no mesmo patamar. A contraproposta de reajuste, dos jornalistas, para salários acima do piso foi de 100% para valores até o teto do INSS (R$ 6.433,57), em duas parcelas; e 80% para salários acima do teto do INSS, também em duas parcelas. Aceitar o parcelamento foi a estratégia do Sindicato dos Jornalistas para buscar percentuais de reajuste mais justos. Além disso, a direção permanecia atenta à manutenção de cláusulas sociais já conquistadas. Quanto à reposição para o piso, estava decidido que seria de 100% do INPC, de 8,90%. Os patrões insistiam em manter a proposta de corte em R$ 4 mil. O Sindjors fez nova jogada, já pensada anteriormente, e propôs como valor de corte R$ 5.500,00. Aguardou, de olho no tabuleiro, novo movimento da patronal, que, em reunião posterior, acenou com valor de corte de R$ 4.500,00.

 

O último movimento no tabuleiro

A última proposta do Sindjors foi que os três sindicatos cedessem em R$ 500 e chegassem a um valor de corte de R$ 5 mil. O tempo estava se esgotando. No dia 23 de julho, então, o SindRádio e o Sindijore RS aceitaram a proposta e o Sindjors bateu o martelo numa das mais difíceis negociações dos últimos tempos, garantindo 8,90% (100% do INPC) de reposição para quem ganha o piso salarial (60% em 1º de junho de 2021 e 40% em 1º de janeiro de 2022); mais o reajustes de 80% para quem ganha do piso até o salário de R$ 5 mil (50% em 1º de junho de 2021 e 30% em 1º de janeiro de 2022); e 60% para quem recebe salário acima de R$ 5 mil (50% em 1º de junho de 2021 e 10% em 1º de janeiro de 2022). Os percentuais de reposição e reajuste são iguais para a capital e interior, retroativos a junho de 2021 e válidos até 31 de maio de 2022. Assim, o piso salarial do jornalista, na capital, passa a ser de R$ 2.791,68 e, no interior, de R$ 2.377,19. Este valor será totalizado em janeiro de 2022, uma vez que a reposição dar-se-á em duas parcelas.

 

Diante a recusa dos sindicatos patronais, quanto ao pagamento de ajuda de custo, durante o trabalho remoto, o Sindjors conseguiu manter conquistas de convenções anteriores, como auxílio-creche, nova redação do vale-refeição e a manutenção da comissão paritária para manter o diálogo e discutir ações de melhorias da saúde, segurança e qualidade de vida dos jornalistas. A Convenção Coletiva de Trabalho 2021/2022 será publicada na íntegra, no site do Sindjors, para conhecimento de toda a categoria.

 

Um dos melhores resultados do país

A presidenta Vera Daisy Barcelos entende como positiva a conquista, em face o cenário que se apresenta, no país. “Em alguns Estados brasileiros, a categoria não conseguiu chegar perto do índice do INPC. No município do Rio de Janeiro, por exemplo, rádio e TV propuseram reajuste de apenas 2%, enquanto jornais e revistas fizeram ainda pior: 1%, para um INPC de 5,53%, em janeiro. Isso é uma falta de respeito. A justificativa das patronais foi e é a mesma, em todo o país, de que as dificuldades financeiras foram agravadas pela pandemia. Esquecem que o trabalho do jornalista tem sido essencial durante esse período e que, tristemente, até 2 de junho, 155 jornalistas foram vitimados pela Covid-19 no país, representando um aumento de 277% na média mensal de mortes, no comparativo com o ano de 2020, quando foram registradas 80 mortes pela doença (levantamento feito pela Fenaj). Não repor as perdas salariais dos nossos colegas é desrespeitoso e inaceitável. Por isso, devemos valorizar o acordo que assinamos, um dos melhores do país”.

 

Fizeram parte do GT Convenção Coletiva 2021/2022, a presidenta Vera Daisy Barcelos, a 1ª vice-presidenta Laura Santos Rocha, o 2º vice-presidente Pedro Dreher, as diretoras Rosa Maria Pitsch, Sílvia Fernandes e Carla Seabra, mais o assessor jurídico Antônio Carlos Porto Júnior.

 

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Texto: Carla Seabra/Diretoria Sindjors