Seis vereadores e vereadoras se somam à bancada negra em sessão que também homenageou personalidades negras da Capital

 

Seis vereadoras e vereadores negras e negros suplentes assumiram mandatos parlamentares na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, nesta quarta-feira (17), em razão do transcurso da Semana da Consciência Negra. São eles Reginete Bispo, Baba Diba de Yemonja e Alberto Terres, do PT, Sâmila Monteiro (Novo), Divina Diva da Restinga (SD) e Pai Ricardo D’Oxum (PSDB). Com isso, nos próximos dias, serão 11 parlamentares.

 

Após, foi realizada uma sessão solene em homenagem a personalidades negras de Porto Alegre, iniciativa da Mesa Diretora, juntamente com a bancada negra de vereadores, composta por Karen Santos e Matheus Gomes,do PSOL, Bruna Rodrigues e Daiana Santos, do PCdoB, e Laura Sito (PT). Cada um dos 36 vereadores indicou até três personalidades para receber o diploma em homenagem por sua trajetória.

 

Entre os homenageados estão Issac Ortiz (presidente do sindicato Ugeirm), Maria Noelci Teixeira Homero (conselheira Consea-RS) e Vera Daisy Barcellos (presidenta do Sindjors) / Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA

 

A vereadora Laura Sito (PT), representando a Mesa Diretora, ressaltou a importância da data e da presença do povo negro ocupando os espaços de representação popular. “É uma imensa alegria ver tanta cara preta sentada na Câmara. Me emociona e é a força da nossa luta por uma cidade antirracista. Em 248 anos da Casa, pela primeira vez temos eleita uma bancada negra. Fruto da luta de décadas”, acrescentou. Após sua fala na tribuna, Laura assumiu a presidência da sessão.

 

Plenário ficou lotado para homenagem ao povo negro de Porto Alegre / Foto: Ederson Nunes/CMPA

 

Naiara Silveira, filha de Oliveira Silveira, leu trechos de obras de seu pai. O poeta, intelectual e militante negro que integrou o Grupo Palmares foi um dos líderes da campanha pelo reconhecimento do Dia da Consciência Negra em 20 de novembro.

 

Conceição Fontoura, integrante do Grupo Cultural Palmares, contou sobre sua trajetória no grupo que foi fundado com objetivo de promover estudos sobre história, artes e outros aspectos culturais, particularmente em relação ao negro e ao mestiço de origem negra.

 

Suplentes destacam resistência do povo negro

Reginete Bispo assumiu na vaga de Leonel Radde (PT), entre 17 a 21 e fará parte da Comissão de Constituição e Justiça nesse período. Como já assumiu anteriormente, quando prestou juramento e fez seu pronunciamento, a vereadora não ocupou a tribuna.

 

Baba Diba de Yemonja assumiu no lugar de Jonas Reis (PT) e, no período da licença do titular, entre 17 e 19 de novembro, integrará a Comissão de Educação, Cultura, Esportes e Juventude (Cece). Em sua fala na tribuna, Baba Diba criticou o fato de, por impedimento do Regimento Interno, não poder tomar posse com a indumentária adequada, que o identifica com o povo de matriz africana que representa. Projetou que, “em nome da democracia, isso um dia irá mudar”.

 

Sanitarista e defensor do Sistema Único de Saúde ressaltou o seu orgulho em tomar posse em meio às comemorações do cinquentenário da instituição da data de 20 de novembro, que homenageia Zumbi dos Palmares. Segundo o parlamentar, Zumbi “inaugurou um novo processo de resistência negra a todo tipo de opressão e discriminação racial no Brasil”.

 

Alberto Terres assumiu a cadeira do vereador Aldacir Oliboni (PT), também pelo período de 17 a 19 de novembro e, neste período, fará parte da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam). Iniciou a sua primeira manifestação como parlamentar referindo a sua condição de municipário, militante do sindicato da categoria, representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Simpa no Conselho Municipal de Saúde. Também da importância de assumir o mandato durante as homenagens aos 50 anos do 20 de novembro. “É uma honra para todas as pretas e todos os pretos.”

 

Terres ressaltou a luta pela implementação de políticas públicas como Educação, Saúde, Assistência Social, especialmente para a população negra, que precisa desses serviços. Lamentou o que definiu como “um projeto de sucateamento”, como o que pôde ser visto no Sistema Único de Saúde durante a pandemia, e com as reformas trabalhista e da Previdência. Também criticou a PEC 95, que congelou investimentos por 20 anos no país, e a tramitação da Reforma Administrativa, que, segundo ele, “colocará uma pá de cal no serviço público” e precisa ser impedida com a mobilização dos trabalhadores.

 

Divina Diva da Restinga ocupará a vaga de Cláudio Janta (SD) e fará parte nesse período da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ela destacou o dia especial para a sua comunidade, a Restinga, formada por trabalhadores com sonhos e expectativas, “onde cada dia é uma batalha”. Disse que levou oito anos para chegar ao Parlamento e que irá lutar pela igualdade social e racial, e pela educação.

 

Ela disse representar a todos que passam por situações de preconceito racial e que o desprezo lhe deu forças. “Certa vez uma amiga pediu a minha ajuda para um projeto. Ela era analfalbeta e disse: ‘Seja a minha caneta e a minha escrita, porque o resto eu farei’. É o que eu farei por um povo que chora pela desigualdade, mas que ama a vida com intensidade”, ressaltou.

 

Sâmila Monteiro ficará no cargo até o dia 19 em substituição à vereadora Mari Pimentel (Novo) e, neste período, integrará a Comissão de Educação, Cultura, Esportes e Juventude (Cece). Em sua manifestação, a parlamentar, de 25 anos, moradora da Restinga, se descreveu como liberal e agradeceu aos seus 2.251 eleitores. Descreveu avanços do atual governo para os pilares que defendeu na campanha: liberdade para morar, trabalhar e empreender.

 

Registrou a importância da posse durante a Semana da Consciência Negra “porque serve de estímulo para a autoestima do indivíduo negro”. Ainda afirmou que o negro não é figura subalterna e que isso reveste de maior importância ver a representatividade da bancada negra no Legislativo, “guardadas as divergências políticas de pensamento”.

 

Pai Ricardo D’Oxum (PSDB) disse ser importante assumir o mandato de vereador numa semana emblemática para o seu povo. Ele agradeceu seus eleitores e o vereador Moisés Barboza (PSDB), que possibilitou a abertura temporária do mandato.

 

Afirmou que sua luta é para que “a luta da consciência negra seja lembrada todos os dias”, para que os negros sejam lembrados por sua história e sua luta. Ele defendeu maior diálogo para combater o preconceito e a desigualdade social, bem como a inserção de projetos sobre o tema nas escolas e comunidades.

 

Texto: Redação Brasil de Fato* | Porto Alegre | Edição: Marcelo Ferreira | 18 de Novembro de 2021, às 12:15

* Com informações da Câmara de Vereadores de Porto Alegre

 

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