No último sábado, 9 de novembro de 2024, a Fenaj promoveu seu 1º Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas, em São Paulo e pela plataforma Zoom, onde centenas de profissionais debateram alguns dos temas urgentes e, infelizmente, ainda muito atuais, entre eles: a igualdade de gênero, a precarização do trabalho e a violência contra as jornalistas no Brasil. O evento híbrido contou com três paineis, entre 9h e 16h, aprovou a Carta de São Paulo e ainda a periodicidade do encontro de mulheres jornalistas. Sim, este foi apenas o primeiro.

 

Embora o jornalismo brasileiro ainda seja majoritariamente feminino, as profissionais do setor enfrentam desafios estruturais que, ao longo dos anos, têm afastado as mulheres da profissão. Em média, as jornalistas recebem salários menores que os dos homens, trabalham em jornadas mais intensas e desgastantes, sofrem mais com pressões e assédio e têm muito mais dificuldade em ascender a cargos de direção nas redações e nos sindicatos. A proposta de reunir as mulheres jornalistas tinha o objetivo de fazermos essas importantes discussões e pensarmos formas de enfrentar essas desigualdades.

 

 

Na mesa 1 tivemos o debate “Ser mulher jornalista no Brasil e na América Latina: o que dizem as pesquisas” com a vice-presidenta da FIJ Zuliana Lainez apresentando os dados sobre a situação das mulheres trabalhadoras da imprensa na América Latina e Caribe de 2023, apresentando uma situação bastante semelhante à nossa, inclusive no que se refere aos ataques sofridos pelas jornalistas peruanas nas redes sociais. Letícia Fagundes, do Instituto Mulheres Jornalistas, fez sua participação on-line, relatou a experiência do Instituto em dez anos de atuação e cobrou veemente que a união e solidariedade entre mulheres jornalistas seja construída na prática. A presidenta da Fenaj, Samira de Castro, falou sobre a queda do emprego formal dos jornalistas no Brasil usando como base dados do livro “O Trabalho de Jornalistas no Brasil” (2023, Insular), que traz uma análise sobre a queda de 5,9% na presença feminina no setor entre 2012 e 2021, um movimento que contrasta com o crescimento de 5,6% na presença masculina. Este primeiro painel de debate foi mediado por Valdice Gomes, da Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Étnico-Racial, da Fenaj.

 

No segundo painel, ainda na parte da manhã, o debate foi sobre “Violência de gênero no exercício do Jornalismo”, que iniciou com a presidenta da Abraji, Kátia Brembatti, fazendo um relato sobre os dados do Monitor de Violência de Gênero da entidade e ressaltando que seu desejo mais sincero é não precisar mais falar sobre a violência enfrentada pelas mulheres no desempenho do jornalismo. A diretora executiva do Instituto Tornavoz, Charlene Miwa Nagae, abordou a experiência da atuação em defesa de jornalistas assediados judicialmente e também sobre o reconhecimento do STF ao “Assédio Judicial contra Jornalistas”, usando como exemplo o acolhimento e amparo profissional dado à jornalista Schirlei Alves, do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina – a próxima participante da mesa. Schirlei falou sobre como fez a cobertura do Caso Mari Ferrrer, sobre o assédio judicial que vem sofrendo desde que denunciou a violência cometida contra Mari no julgamento do homem acusado de estuprá-la e, também, de sua condenação penal a partir da publicação da matéria. O relato emocionado e corajoso de Schirlei foi ovacionado pela plateia que se comoveu e se solidarizou. Essa segunda mesa foi mediada por Helena Sária, do Sindicato dos Jornalistas do Pará.

 

 

Após um brevíssimo intervalo para o almoço, o encontro foi retomado para o terceiro e último painel: “Por um Jornalismo com perspectiva de gênero, raça e classe”, mediado por Bianca Santana. Luciana Barreto, autora do livro “Discursos de ódio contra negros nas redes sociais” apresentou os dados de sua pesquisa para o livro, os relatos que ouviu e sobre como veículos vêm, paulatinamente, retrocedendo no espaço para apresentadoras negras e como, para além da violência de gênero, a de raça é muito mais profunda, arraigada, devastadora e difícil de enfrentar. Martihene Oliveira, fundadora do Coletivo Sargento Perifa de Pernambuco, relatou a experiência de um veículo comunitário e periférico, feito por e para mulheres negras, e que essa experiência de comunicação vai muito além do jornalismo. A diretora de conteúdo Bárbara Libório fez um apanhado dos quase dez anos da revista, do instituto e da plataforma AzMina, da diversidade que vem crescendo conscientemente na própria redação e da dificuldade em fazer um conteúdo assumidamente feminista. Ariene Susui, Co-fundadora da Rede de comunicadores indígenas de Roraima Wakywaa, faria sua participação on-line, mas teve problemas de conexão em seu território.

 

Ao final das mesas e dos debates a constatação de que um único dia é muito pouco, que são muitas as desigualdades ainda a serem enfrentadas e que temos ainda um longo caminho como Federação a seguir.

 

Feitas as despedidas finais das palestrantes e os agradecimentos, a presidenta Samira de Castro encaminhou o debate e aprovação da Carta de São Paulo (CLIQUE AQUI para ler na íntegra) e a aprovação de periodicidade anual para o Encontro de Mulheres. Informalmente, os estados de Minas Gerais, Paraná e Brasília se candidataram para sediar o Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas Fenaj 2025.

 

A reunião da Comissão de Mulheres Jornalistas da Fenaj, prevista para a segunda parte da tarde, não pode ser realizada, ficando para ser executada no formato on-line o mais breve possível.

 

O SindJoRS esteve presente na atividade presencialmente com a participação da jornalista Niara de Oliveira, integrante da diretoria e Delegada Regional de Pelotas. Também fizeram parte do evento como ouvintes de forma on-line a diretora Letícia Castro, a integrante da Comissão Estadual de Ética do SindJoRS e representante da Querela –  Jornalistas Feministas, Telia Negrão, e a jornalista sindicalizada Elaine Barcellos de Araújo representando o Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiras(os), do SindJoRS.

 

Texto: Niara de Oliveira/Diretoria SindJoRS

 

ACOMPANHE:

👩‍💻📸 Encontro de Mulheres Jornalistas – Fenaj

 

Publicação da FEPALC no Instagram

 

1º Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas reúne profissionais de todas as regiões e aprova resoluções pela equidade de gênero e segurança no trabalho