Lançamento ocorre durante o seminário, a partir das 15h, com a presença de Jeanice Ramos, Nereidy Alves e Jones Lopes da Silva – Foto: Divulgação
Evento será no dia 8 de novembro durante o seminário Caminhos da Resistência – Mulheres Negras e Quilombolas
A revista Tição lança a segunda edição do seu renascimento depois de 40 anos de paralisação, no dia 8 de novembro, no Ritter Hotel, em Porto Alegre. O principal veículo da imprensa negra do RS será distribuído no Seminário Caminhos de Resistência – Mulheres Negras e Quilombolas. Para a jornalista Jeanice Dias Ramos, que é diretora do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS), uma das fundadoras da revista e atual editora, o novo lançamento reflete uma questão de grande importância para o movimento negro: o protagonismo e o empreendedorismo da mulher negra.
“Como uma das mulheres à frente da Tição, vejo nesta nova edição uma resposta potente ao apagamento que as negras sempre sofreram. Essa é a prova viva de que nossa luta segue necessária para celebrar e fortalecer o nosso protagonismo na construção de uma sociedade mais justa”, afirma Ramos.
O lançamento ocorre durante o seminário, a partir das 15h, com a presença de Jeanice Ramos, Nereidy Alves e Jones Lopes da Silva. O evento integra a programação que propõe reflexões sobre território, memória e luta.
Patrimônio histórico negro
Criada em 1978, durante a ditadura militar, a revista Tição nasceu com o propósito de dar visibilidade às vozes negras e ampliar o debate sobre o racismo no Rio Grande do Sul. Reconhecida como patrimônio histórico da intelectualidade negra, reune artigos, entrevistas e conversas que celebram e discutem o papel das mulheres negras em diferentes campos.
A Tição se consolidou sob a ditadura militar como um marco histórico na imprensa negra gaúcha. Seu corpo editorial contava com o poeta e ativista Oliveira Silveira (idealizador do 20 de Novembro), Vera Daisy Barcellos, Emílio Chagas, Jeanice Ramos, Jorge Freitas, Jones Lopes e Edilson Nabarro. Integra acervos de museus como o Museu Afro Brasil e o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa. Agora, seus membros remanescentes retomam sua missão com novas edições.
Focada na questão étnico-racial e na luta contra o racismo, com repercussão no cenário nacional e internacional, a revista foi relançada este ano no salão Mourisco da Biblioteca Pública do Estado no primeiro número da nova fase. Nesta festa da Tição, aconteceram apresentações culturais com a cantora Marguerite Silva Santos e Naiara Oliveira, que declamou poesias de autoria de seu pai, Oliveira Silveira.
“A revista tornou-se um marco e uma referência na imprensa negra brasileira, trazendo pautas com invisibilidade do negro na história gaúcha, violência policial e discriminação, racismo na educação e mercado de trabalho. E tantos outros temas até então praticamente não tocados pela imprensa oficial. Mais de 40 anos depois, percebemos que a maioria das pautas permanecem atuais e, por isso, decidimos reeditar a revista e se incorporar na luta contra o racismo no movimento negro brasileiro”, ressalta Jeanice Ramos.
“É muito significativo esse renascimento da Tição. O papel que ela teve na década de 1970, início dos anos 1980, é de muito peso. Mas agora, nesse momento que a gente vive uma efervescência, o racismo se apresentando tão violento quanto lá atrás, a revista é de extrema importância. Para mim é muito significativo, este grupo, formado por companheiros de luta, companheiros de profissão, estar na vanguarda da movimentação. Mais uma vez o RS está dizendo sim, é possível fazer publicações negras”, afirma Vera Daisy, ex-presidenta do Sindicato de Jornalistas Profissionais do RS.
O racismo ainda está aqui
“Vendo as revistas antigas que a gente fez em 1978 e 1979, as bandeiras que nós levantamos são as mesmas que estão ainda aqui. Houve alguns avanços da luta, da pressão popular, da luta do movimento negro, como a questão Prouni e as cotas, onde mais estudantes negros acessaram a universidade, coisas que não existia na nossa época. Essa é uma questão que avançou realmente, mas o racismo estrutural, a violência, a desigualdade, a perseguição, a questão do mercado de trabalho são as mesmas”, comenta Emílio Chagas, jornalista sindicalizado ao SindJoRS.
O jornalista lembra que o RS tem o clube social negro mais antigo do Brasil (Sociedade Floresta Aurora), criado 15 anos antes da abolição. “É o estado, com toda essa população da colonização italiana e alemã, que tem o maior número de terreiros, o que muita gente não sabe. Surgiu aqui a Tição que é hoje uma revista referência em termos acadêmicos em todo o Brasil.” Em sua avaliação falta um trabalho de imprensa, veículos próprios na voz negra. “É um trabalho que tem que ser feito imediatamente, de letramento, de conscientização e difusão.”
Texto: Eugênio Bortolon | Editado por: Marcelo Ferreira | Brasil de Fato RS