Com o objetivo de conhecer, entender e enfrentar as notícias falsas e mentirosas que vêm sendo disseminadas especialmente nas redes sociais, foi realizado na noite desta terça-feira (4) o painel Combate às Fake News, no auditório da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.

 

O evento foi promovido pelo Comitê Gaúcho do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), coordenado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (SINDJORS), CUT-RS e Sindicato dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (SindSepe-RS), e contou com o apoio da Fabico, Unisinos, Movimento 3D – Democracia, Diálogo e Diversidade, Associação de Juristas pela Democracia (AJURD) e Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito.

 

Mais de 80 pessoas participaram das três horas de exposições e debates, dentre jornalistas, estudantes, professores, advogados, juristas, engenheiros, trabalhadores, dirigentes sindicais, blogueiros e ativistas digitais.

 

O presidente do Sindjors, Milton Simas (abaixo), abriu os trabalhos, destacando a importância do tema que ganhou proporções inimagináveis nas eleições de 2018, “norteadas por mentiras, como o kit gay e a mamadeira de piroca, que foram decisivas para a eleição de Bolsonaro”.

 

A vice-diretora da Fabico, professora Ilsa Girardi (abaixo), deu as boas-vindas aos participantes, contextualizando o evento com o período de ataques aos direitos que o Brasil atravessa. “É uma pena que a gente esteja se encontrando neste momento tão triste que estamos vivendo neste país.”

 

Desinformação

A mesa de debates foi integrada pelo jornalista Moisés Mendes, o subprocurador-geral da República Domingos Sávio da Silveira, o jornalista e professor da UFRGS Marcelo Träsel, a jornalista e professora da Unisinos Taís Seibt e o ativista digital Lúcio Uberdan.  O jornalista e secretário de Comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, fez a mediação.

 

Taís apresentou os pontos centrais da sua tese de doutorado em Comunicação na Fabico, intitulada “Vamos parar de falar de fake news”. Ela salientou que a internet não inventou a mentira e nem as fake news e defendeu que “essas notícias falsas ou falsificadas sejam tratadas como desinformação”.

 

Educação para mídia

Segundo a professora da Unisinos, essas práticas vêm desde a antiguidade e o ambiente atual é muito propício para a proliferação de tais desinformações que contaminam o processo democrático. “Esses fenômenos sempre existiram, mas foram potencializados pela internet.” Ela defendeu a necessidade de uma educação para a mídia para compreender o mundo da comunicação.

 

Träsel disse que é muito difícil hoje se combater a desinformação, pois a liberdade de tráfego de dados favorece que as pessoas se informem, sobretudo através do WhatsApp. Ele considerou importante que haja “um processo de alfabetização” para entender a atuação da mídia.

 

O professor da UFRGS (abaixo) enfatizou também que as pessoas têm os seus viés ideológicos e os seus preconceitos. “Em um ambiente polarizado com o atual, isso se acentua ainda mais”, pontuou.

 

Usina de notícias falsas

Uberdan (abaixo) lembrou que possui uma vasta experiência profissional em mídias digitais, principalmente no campo da esquerda. Ele destacou que trabalhou na campanha vitoriosa da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2010, quando as mídias sociais não exerceram a influência verificada na eleição de Bolsonaro.

 

Para o ativista digital, “é preciso entender que existe uma grande engrenagem movendo às fake news” e ainda estamos muito longe de descobrir o que está por trás dessa “usina” de notícias falsas.

 

Falta pluralidade na mídia

Domingos (abaixo) disse que “é muito simbólico que nesta noite a gente se reúna para tratar sobre fake news. Estamos em um momento de desconstrução e ataques à universidade pública”. Para ele, o discurso único da grande mídia é fundamental para a proliferação e validação das fake news na sociedade. “A desinformação se sustenta na falta de pluralidade da mídia”, apontou.

 

O subprocurador-geral da República citou o Marco Regulatório da Internet e a legislação das rádios comunitárias, que garantem espaços de democracia na comunicação, lembrando também que as rádios e TVs são concessões públicas.

 

Importância da mídia alternativa

Moisés (abaixo)resgatou a luta histórica da chamada imprensa alternativa no combate à ditadura militar, citando o carioca Pasquim e o gaúcho Coojornal. Ele disse que o momento atual é muito pior. “A melhor forma de enfrentamento às fake news é a busca incessante da verdade.”

 

O jornalista afirmou ainda que há um esvaziamento das redações em termos de pensamento de esquerda e observou que falta apoio financeiro para a sustentação de uma mídia alternativa. Para ele, não há como sair dessa situação sem o fortalecimento das mídias alternativas.

 

Manifesto em defesa da verdade

Após as cinco exposições, o advogado e integrante da direção da AJURD, Mário Madureira, fez a leitura do “Manifesto em defesa da verdade, contra a desinformação e pela democracia”, elaborado pelos organizadores do evento, que foi aclamado pelos participantes.

 

Houve também espaço para falas e perguntas de participantes aos painelistas. Um dos que usaram o microfone foi o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, que propôs iniciativas para combater a ausência de contraponto na mídia sobre o déficit da Previdência, “a maior fake news da atualidade”.

 

Fonte: SINDJORS com CUT/RS