Recém iniciou o ano de 2025, muitas pessoas estão aproveitando as suas merecidas férias e, exatamente em um período que deveria ser de mais sossego, as denúncias de desqualificação e de desrespeito com a nossa profissão já começam a chegar ao Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS). É importante ressaltar que apenas com a participação de nossa categoria é que podemos ter acesso às informações desse tipo de ataque e de retrocesso que ocorre em nosso Estado para poder acompanhar e cobrar mudanças para essas tentativas sorrateiras de prejudicar as e os jornalistas.
A primeira denúncia que recebemos foi sobre a Câmara de Vereadores de São Leopoldo. A presidenta da casa, Iara Cardoso (PDT), tomou uma decisão polêmica: suspendeu, por meio de portaria, todas as nomeações para o cargo de assessor de imprensa das bancadas, incluindo as já realizadas nos mandatos de PT, PP, PSD, PDT e PL. O cargo, existente há anos, exige formação em jornalismo e é fundamental para garantir uma comunicação técnica e ética nos mandatos. Sem diálogo com as bancadas ou com os profissionais afetados, a medida é vista como um ataque à profissão de jornalista. Nos bastidores, há rumores de que a extinção do cargo abre caminho para a criação de uma verba de gabinete, permitindo que cada vereador contrate quem quiser, sem necessidade de formação, priorizando redes sociais em vez de uma comunicação institucional qualificada. Já em 2013, a Câmara de Vereadores de São Leopoldo havia tentado retirar a exigência do diploma para o exercício profissional sem sucesso pela mobilização do Sindicato com a categoria.
Seguindo na mesma linha, recebemos a indignação pelo grave retrocesso que foi proposto na Câmara Municipal de Ijuí. A Mesa Diretora protocolou um projeto de lei que altera o requisito necessário para assumir o cargo de Assessoria de Comunicação do Poder Legislativo. A proposta retira a exigência de formação em Jornalismo, reduzindo-a para ensino médio completo. Tal alteração parece ter sido desenhada para passar despercebida e sem o devido debate. A justificativa apresentada é baseada no julgamento do Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 511.961, que, por oito votos a um, decidiu que o diploma não é obrigatório para o exercício da profissão de jornalista. Contudo, usar essa decisão como argumento para desqualificar um cargo técnico de tamanha relevância é inaceitável e desrespeitosa aos colegas jornalistas.
Em qualquer uma das situações, acima, permitir que o cargo de Assessoria de Comunicação, essencial para a credibilidade e transparência do Poder Legislativo, seja ocupado por pessoas sem a formação adequada, compromete a qualidade das informações divulgadas e enfraquece o papel do Jornalismo como pilar da democracia. Precisamos defender o exercício qualificado do Jornalismo e dos profissionais que tanto se dedicam à área. Além de desvalorizar o jornalismo, a decisão enfraquece a transparência e o acesso à informação, prejudicando o trabalho das bancadas e a conexão com a população. O momento exige resistência para garantir que a comunicação nos mandatos seja técnica, ética e democrática. Esse tipo de retrocesso prejudica não só a classe, mas também a sociedade como um todo.
Já em Bagé, o desrespeito ficou evidente em um anúncio de contratação para um jornal local, célebre pelo desrespeito com os ex-colaboradores, por não pagar nada de direitos trabalhistas, e que publicou um anúncio de vagas para jornalistas que debocha e ridiculariza o nosso ofício. “Você que escolheu jornalismo por profissão, que precisa estudar e conhecer de tudo, para trabalhar muito e ganhar muito pouco, ser cobrado a opinar e criticado quando opinar ou deixar de opinar, e ainda escutar “especialistas” dizendo como deves fazer teu trabalho, teus problemas acabaram. Venha trabalhar conosco, pois teu lugar é aqui”, diz o polêmico anúncio da Folha do Sul. E, logo em seguida, num comentário na própria postagem, a revolta de profissionais com toda a razão: “Não sei se é deboche, ou quem pensou em ser “criativo” está desligado da realidade, alcoolizado ou tentando avisar da triste realidade. Infelizmente, muitas vezes, a categoria precisa se sujeitar. Não é diferente dos grandes grupos de comunicação”, afirmou um colega jornalista.
Um país que não respeita os trabalhadores da Imprensa e desconhece seu papel fundamental em informar a sociedade é um país com sua democracia em risco. A harmonia entre imprensa e poder público reside no tratamento cordial, verdadeiro e dentro dos limites institucionais. Por fim, o trabalho da imprensa profissional em um período complexo que vivenciamos onde as notícias falsas, conhecidas como “fake news”, estão circulando diariamente sem a devida checagem torna o nosso trabalho mais do que nunca necessário para garantir a verdade dos fatos, a coerência com os dados apresentados e a manutenção de nossa democracia. Essas ações buscam apenas confundir a sociedade numa clara tentativa de mascarar a realidade. Seguiremos vigilantes e na defesa do jornalismo profissional e vamos cobrar, dessas instituições, que a nossa categoria seja respeitada e valorizada, garantindo à sociedade acesso público à informação ética e plural.
Texto: Laura Santos Rocha/Diretoria SindJoRS