Quem é o sujeito da ação, num feminicídio? Certamente não é a vítima. Então, por que a maioria dos títulos das matérias, que narram feminicídios, tem a mulher como sujeito da oração? Por que escolher uma narrativa que revitimiza a mulher e já antecipa a defesa do assassino ou reduz a gravidade do ato que arrancou a vida dela?

 

Qual o papel da imprensa na narrativa de feminicídios e na manutenção da misoginia estrutural da sociedade?

 

Estas são as perguntas que norteiam a investigação das jornalistas feministas Niara de Oliveira (Pelotas/RS) e Vanessa Rodrigues (São Paulo/SP), na preparação do livro “Narrativa de Feminicídios” (título provisório), a ser lançado, ainda em 2021, pela Drops Editora.

 

O foco é a narrativa escrita, em jornais, revistas e portais de notícias, tentando abranger todas as regiões do país, a partir da cobertura feita de casos específicos. Alguns bem famosos, como os de Ângela Diniz, Eliane de Grammont, Eloá Pimentel, Eliza Samudio, Sandra Gomide, Tatiane Spitzner e a juíza Viviane do Amaral. Outros quase totalmente desconhecidos, mas com igual importância para as autoras. Do “Quem Ama Não Mata”, em 1980, até os dias atuais.

 

A ideia do livro surge a partir de uma experiência conjunta das autoras, na comunidade virtual “Não Foi Ciúme”, hospedada no Facebook, e que, desde novembro de 2015, analisa relatos da imprensa sobre os casos de violência contra a mulher, como uma “caneta desmanipuladora”, não apenas identificando os “erros”, como sugerindo uma forma mais aceitável dessas narrativas, não revitimizando as mulheres, não desacreditando a palavra dela e não desestimulando novas denúncias.

 

No caso específico dos feminicídios, a vítima nem tem mais palavra, tem tão somente a própria memória, que, com frequência, é desrespeitada, desqualificada já a partir do relato na imprensa, que é o primeiro contato que a maioria da população tem com aquela mulher e a história dela. Se a imprensa já desculpa o assassino, no primeiro relato do crime, qual júri popular o condenará? Por isso é tão importante aprofundar a análise das narrativas de feminicídios e apontar caminhos.

 

Para garantir a chegada do livro às livrarias, em 2021, as autoras abriram um financiamento coletivo pela plataforma Catarse. Os apoios variam de R$20 a R$500 reais e cada faixa tem recompensas exclusivas para os apoiadores. O livro, devidamente autografado, é recompensa nos apoios a partir de R$80 reais e todas e todos que contribuírem serão citados no livro em agradecimento.

 

Narrativa de Feminicídios (título provisório) tem lançamento previsto para novembro (impresso e ebook), mas, enquanto isso, é possível acompanhar o “making of” do livro, por meio dos perfis das autoras nas redes sociais, uma página-diário no Facebook e no Instagram.

 

As mulheres da Drops Editora, ao explicarem porque abraçaram este projeto, disseram que “toda desconstrução passa, primeiro, pela identificação do que se pretende desconstruir. A nós, parece lógico que identificar o uso da linguagem, como instrumento não só de comunicação, como também ferramenta de dominação, é um passo importante. Somos quatro mulheres empenhadas não só em mudar o mundo, mas, também, em despertar, nas pessoas, a consciência a respeito das forças sob as quais os relatos sobre o mundo acontecem”.

 

AS AUTORAS:

 

 

Niara de Oliveira (E), 49 anos, feminista bem antes de se formar jornalista pela UCPel, com passagens pela assessoria de imprensa de prefeituras e sindicatos; atualmente, freelancer e conteudista para sites e redes sociais, além de Delegada Regional de Pelotas do Sindjors.

(E-mail, Twitter e Instagram)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vanessa Rodrigues (D), 49 anos, feminista, escritora e jornalista, com trajetória em comunicação estratégica, assessoria de imprensa e mídias sociais, primordialmente em organizações do Terceiro Setor. Atualmente, dedica-se à literatura e produção de conteúdo em redes sociais.

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