Foram ouvidos hoje (24/06), na Câmara de Vereadores de Alegrete, no Sudoeste do Estado, os dois jornalistas agredidos por policiais militares, durante uma reportagem sobre abigeato, na última quinta-feira (18/06). A Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul disse, em nota, que “não admite ações individuais fora dos regulamentos e ditames legais” e que a Brigada Militar instaurou um inquérito para investigar o caso. A BM informou que os dois jornalistas receberam ordem de prisão por desacato à autoridade e resistência. Três boletins de ocorrência foram registrados contra os profissionais da imprensa e o advogado deles. Por sua vez, estes mesmos profissionais também registraram B.O. contra a Brigada Militar, por agressão.

 

Entenda o caso

O repórter do jornal Em Questão, Alex Stanrlei, estava em frente à delegacia de polícia de Alegrete, para cobrir um caso de abigeato (furto de animais), que aconteceu numa propriedade do Exército, em Rosário do Sul, no dia 18 de junho. O jornalista estava fotografando um caminhão militar, que estava no local, para ilustrar a matéria, quando foi impedido e teve o celular apreendido. Ele, então, chamou o diretor do jornal, Paulo de Tarso Pereira, de 60 anos. De acordo com Paulo de Tarso, os policiais disseram que o repórter estava detido porque a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) dele estava vencida e que ele não portava documentação. Além disso, os policiais teriam exigido que o diretor provasse que era o proprietário do jornal. O que aconteceu, em seguida, foi mais um ato de violência injustificável. “Um me atacou e me deu uma gravata, começou a me asfixiar. O Alex se levantou para me defender e foi agredido também, começaram a chutar. Foi algemado, pegaram o celular dele. Fiquei com lesões no pescoço, fiquei no chão e achei que ia morrer”, relatou o diretor à reportagem de Paula Sperb, da FolhaPress. Paulo de Tarso só foi liberado durante a madrugada, depois dos registros de ocorrências do abigeato, dos policiais contra os jornalistas (desacato e resistência) e dos jornalistas contra os policiais (agressão).

 

 

O jornal

O Em Questão, jornal local, circula duas vezes por semana, em versão impressa, mas com a pandemia do Covid.19, suspendeu a distribuição e ficou apenas com o site, onde mantém as informações atualizadas. O diretor disse, ainda, que não conseguiu fazer a edição de sábado, em razão do caso de violência que sofreu.

 

Repúdio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam, de forma veemente, qualquer tipo de violência contra os profissionais da imprensa, que estão no exercício das suas funções, com a garantia da Constituição Federal, que diz: “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, incisos IV, V, X, XIII e XIV” (art. 220, § 1º)”.

 

De acordo com a presidenta do Sindjors, Vera Daisy Barcellos, “mais que um direito do jornalista, a liberdade de imprensa é um bem da sociedade e deve ser protegida de ações e atitudes que a coloquem em risco. A integridade dos profissionais da imprensa, durante o exercício da profissão é dever do Estado, que deve protegê-los; é inaceitável que seja, justamente o Estado, o agressor”. Vera Daisy coloca o Sindjors à disposição dos jornalistas agredidos. Entidades como a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), ARI (Associação Rio-grandense de Imprensa) e ANJ (Associação Nacional de Jornais) também emitiram nota de repúdio ao ato de violência contra Alex Stanrlei e Paulo de Tarso Pereira.

 

Fonte: Carla Seabra/Imprensa Sindjors