A editora Abril convocou o presidente do Sindicato, Paulo Zocchi, a voltar ao trabalho a partir de 30 de outubro
A editora Abril convocou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), Paulo Zocchi, a voltar ao trabalho na empresa a partir de 30 de outubro próximo, encerrando cinco anos de liberação sindical sem prejuízo de vencimentos, iniciada em 2015.
Essa atitude da empresa ataca o exercício do mandato sindical, pois o cumprimento da jornada normal de trabalho impede o desempenho pleno das atividades ligadas à Presidência da entidade. Zocchi é também vice-presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).
O Sindicato dos Jornalistas é uma entidade de âmbito estadual, que representa uma categoria distribuída em dezenas de empresas. O exercício do mandato de presidente exige uma extensa atuação diária, em reuniões com os jornalistas, negociações com empresas, audiências judiciais ou com o Ministério Público, além de reuniões com outras entidades sindicais ou sociais em defesa dos interesses da categoria.
A própria Abril, aliás, reconhecia isso no acordo de liberação sindical, assinado pelas partes em 2015, no qual está escrito: “Considerando-se a solicitação da entidade sindical para a liberação do empregado para o exercício de suas atividades sindicais em período integral, vez que seriam incompatíveis com a manutenção de suas atividades profissionais na empresa”.
Por que agora a empresa resolve romper esse acordo?
Só podemos entender como um ataque à categoria dos jornalistas e uma retaliação à sua entidade representativa. Impedir que o presidente do Sindicato seja liberado, sem prejuízo de vencimentos, enfraquece objetivamente a capacidade de organização dos jornalistas para enfrentar os ataques às suas condições de trabalho.
A Abril conhece muito bem o intenso trabalho do SJSP na luta contra o calote da empresa resultante da demissão de centenas de funcionários sem o pagamento de verbas rescisórias, em 2018. Viu de perto a atuação da entidade no complexo processo de recuperação judicial da empresa, quando o SJSP conquistou garantias para os trabalhadores que não estavam previstas inicialmente. O Sindicato contestou também as demissões em massa feitas pela Abril, obtendo na Justiça a anulação das demissões (processo em trânsito). Defendeu o pagamento das multas previstas em lei e na convenção coletiva e lutou para garantir condições adequadas de saúde para o trabalho na pandemia, além de se opor à redução de salário permitida pela MP 936 do governo Bolsonaro. É contra essa atividade permanente em defesa dos jornalistas que se volta a atitude antissindical da Abril.
No momento de crise profunda vivida pelo Brasil, com diversos ataques do presidente da República à liberdade de informação e de imprensa, sérias violações às prerrogativas dos profissionais de comunicação, o SJSP – maior sindicato de jornalistas do país – tem presença ativa na atuação das forças democráticas. A decisão da Abril enfraquece também a defesa da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa.
Além disso, a Abril tem 2.657 funcionários (dados de maio de 2020) e dispõe de meios para desenvolver seus projetos jornalísticos sem depender da volta imediata ao trabalho do atual presidente do SJSP. Essa exigência não passa de um ataque ao Sindicato.
Este é um chamado dirigido a jornalistas de São Paulo, entidades sindicais, movimentos populares, instituições democráticas, parlamentares comprometidos com a liberdade e autonomia sindical e a democracia. Uma assembleia da categoria decidiu construir uma campanha contra a prática antissindical da Abril. Pedimos que enviem suas manifestações à Abril, reivindicando que a empresa reveja sua decisão e mantenha a liberação do presidente do Sindicato dos Jornalistas, com pagamento de salários e direitos, até o fim do mandato, em agosto de 2021.
#AbrilRespeiteoSindicato
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP)
Moção pela continuidade da liberação remunerada do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
À Abril S.A.
Ao presidente do Grupo Abril, sr. Fábio Carvalho:
A (nome da entidade) dirige-se à Abril S.A, e a Fábio Carvalho, presidente do Grupo Abril, para reivindicar a manutenção da liberação do trabalho, sem prejuízo de vencimentos, do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, empregado desta empresa, Paulo Leite Moraes Zocchi (também vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas). Sua atuação à frente de entidade, de âmbito estadual, exige dedicação integral, como a própria empresa já reconheceu.
A revogação da liberação sindical sem prejuízo de vencimentos só pode ser compreendida como uma inaceitável medida antissindical, como uma retaliação ao Sindicato por defender os interesses dos jornalistas face aos seus empregadores, e, em particular, face ao Grupo Abril. A decisão é um ataque ao exercício do mandato de presidente do SJSP, entidade de destaque na defesa da liberdade de expressão e de imprensa, e da própria democracia, em nosso país. Lamentamos que uma empresa vinculada à área de comunicação adote tal medida contra o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, e reivindicamos do Grupo Abril:
– Manutenção da liberação do jornalista Paulo Leite Moraes Zocchi para o exercício do mandato sindical, sem prejuízo de vencimentos e direitos, até o fim do atual mandato, em agosto de 2021.
ASSINATURA: ____________________________________
Enviar para:
Com cópia para:
POR CARTA:
PARA A ABRIL S.A.
A/C Fábio Carvalho, presidente
Av. Otaviano Alves de Lima, 4.400 – São Paulo (SP) – CEP 02909-900
Fonte: Fenaj