O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) lamenta o falecimento de Ruy Carlos Ostermann, um dos mais respeitados comentaristas esportivos do Brasil, aos 90 anos.

 

Nascido em 1934, Ostermann teve uma carreira marcada pela inteligência, elegância e profundidade de análise, tornando-se referência no jornalismo esportivo nacional.

 

Sindicalizado desde 15 de outubro de 1959, Ruy Carlos Ostermann dedicou mais de seis décadas à comunicação, influenciando gerações de jornalistas e apaixonados por esporte. Sua trajetória foi marcada por passagens memoráveis em veículos como a Rádio Gaúcha, RBS TV e Zero Hora, onde sua voz e suas palavras se tornaram sinônimo de credibilidade. Ruy Carlos Ostermann foi 1º vice-presidente do SindJoRS, na diretoria do presidente Antônio Manoel de Oliveira, entre 1977 e 1980.

 

O velório está sendo realizado neste sábado, 28 de junho, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS manifesta sua solidariedade à família, amigos e colegas de profissão, destacando a importância de Ostermann para a história do jornalismo brasileiro.

 

Texto: André Zenobini / Diretoria SindJoRS

 

OSTERMANN. O GÊNIO DA FALA.

Texto de José Luiz Chiarelli.

Professor de filosofia. Mestre da escrita. Maestro da cultura, do esporte e da leitura. Seus olhos sempre brilharam nos milhares de livros que leu. Gênio da fala!

 

Jornalista ético, profissional de muita credibilidade, um intelectual, homem culto. Uma referência na comunicação nacional. Cronista da vida e do esporte. Criterioso, altivo nos reparos que fazia aos clubes, times, jogadores de futebol e atletas.

 

Ruy foi um homem de gosto exigente, adorava literatura, cinema, teatro, música, esporte, de preferência tudo de muita qualidade. Mas do alto do pedestal, do seu grandioso palco, sabia com simplicidade, descer degraus para observar, conversar com pessoas comuns. Numa das suas muitas frases eloquentes e certeiras, disse: “Nada contra as pessoas simples, elas fazem falta, em meio a cidadãos tão presunçosos, arrogantes, convencidos, vaidosos, sem nenhuma razão de ser.”

 

O ELOGIO E O CONSENSO

Num de seus discursos na Assembléia Legislativa do Estado, quando recebeu a medalha do Mérito Farroupilha, em dezembro de 2011, discorreu sobre o significado do gesto: “Toda homenagem é justa e demasiada ao mesmo tempo, mas torna o ser humano que a recebe, uma pessoa melhor. Eu agradeço muito, nada que fiz, fiz por reconhecimento. Mas estar aqui onde fui deputado, me realiza e me faz bem.”

 

A propósito, Ruy confessou que um dos mais importantes ensinamentos que teve na vida, não foi como professor ou jornalista, foi como deputado: “Aprendi uma das palavras mais bonitas existentes na política, o consenso. Aprendi a ouvir as pessoas, a levar em consideração o que elas dizem e a compreender a busca pelo entendimento. A grande realização é quando todos cedem e todos acabam ganhando. Aqui, eu tive que sentar, ser igual a todos e saber que as minhas ideias não eram únicas.”

 

Não lembro quem me indicou para trabalhar com o Ruy em Porto Alegre. Acho que foi a tia Alda Serpa Chiarelli que interferiu através do radialista João Carlos Belmonte. Não conhecia o Ruy, só registros na faculdade de jornalismo, Famecos da Puc, sobre sua “guerrilha” como diretor do jornal da Caldas Júnior, Folha da Manhã, em defesa da liberdade de expressão, contra a censura nos tempos da ditadura militar no Brasil. Aliás, o professor tinha uma máxima contundente sobre a leitura: “jornalista que não lê, escreve, mas não tem qualidade”.

 

O PSICÓLOGO E UMA AMIZADE

Em 1980, eu trabalhava no jornal Folha da Tarde e fui integrar a equipe de esportes da rádio Gaúcha sob o comando do Ruy. Aí, começou nossa amizade de quarenta e cinco anos. O professor já havia sido contratado pela RBS, rádio Gaúcha, para fazer frente a liderança de audiência incontestável da rádio Guaíba. Ruy não era apenas o diretor de esporte e comentarista, Mas, ele se preocupava com os problemas de seus subordinados, era o psicólogo da “irrequieta” equipe, formada por Haroldo de Souza, Pedro Ernesto, Darci Filho, Wianey Carlet, Roberto Brauner, João Garcia, Enio Melo, Kenny Braga e outros. Futuramente o professor foi convidado para ser comentarista de futebol da TV Globo. Ruy declinou para preservar a organizada vida profissional da família.

 

ANDANÇAS NO RIO DE JANEIRO

No Rio de Janeiro, fui um misto de parceiro, produtor e escudeiro do professor. Sempre que vinha, nossas andanças eram super agradáveis. O Rio sempre foi muito gentil com o Ruy, ele reconhecia isso. Lembro dele brilhando no programa da tv Educativa, Sem Censura, sob o comando de Leda Nagle. Ele entusiasmou com sua expressiva fala ao jornalista Pedro Bial no programa Espaço Aberto da Globo News. E muitas vezes nos programas esportivos do canal Sportv. No Bem Amigos, comandado por Galvão Bueno. Aliás, o narrador disse que Ruy foi um gigante da comunicação e como é triste saber que não mais poderá beber da sabedoria do professor.

 

Ainda no Rio, vivemos momentos felizes, como o lançamento na livraria Argumento em Ipanema, do livro O Nome do Jogo. Ruy acompanhado pela filha Cristiane, ficou feliz com as presenças significativas, como o escritor e jornalista Ruy Castro.

 

Para finalizar, a participação no teatro Municipal no Grande Prêmio da Música Popular Brasileira e no auditório do Museu de Arte Moderna num evento esportivo, Os Melhores do Ano no futebol brasileiro. A propósito, o professor comentou: “Nós, nesses eventos de terno e engravatados, isso sim é uma raridade.”

 

O PROFESSOR EM URUGUAIANA

Ruy escreveu que tinha uma simpatia por Uruguaiana por causa de amigos, entre os quais Fernando Moura, Torico Guimarães e o meu primo Francisco Jacques Machado, que foi colega do Ruy no curso de Filosofia da UFRGS. Francisco contou que o professor foi um superdotado, um leitor voraz, lia, absorvia e debatia com os professores. Como um radialista esportivo argumentava sobre o filósofo Jean Paul Sartre, com a leveza de como estivesse tomando um chope gelado?.

 

Não esqueço de duas visitas à nossa cidade. Uma vez como convidado especial do uruguaianense Ventura La Hire Gutierrez para um churrasco de carne bovina,método tradicional, assado de couro, por 24 horas. E em 1985, o professor acompanhado da filha Fernanda, aplaudiu na décima quinta Califórnia da Canção Nativa, a vitória de Jerônimo Jardim com Astro Haragano.

 

A DESATENÇÃO DO TEMPO

Adaptando uma frase do próprio professor, em dezembro de 1993, numa coluna de jornal com o título Eternidade, chegamos a triste realidade: Ruy, 90 anos, precisava de cuidados especiais para sua saúde. Ele sofreu a desatenção do tempo, sempre decidido a declarar alguma coisa sobre as perfeições do homem.

 

O gênio da fala, lá no céu, ao lado da mulher de sua vida, Nilce Wink Ostermann, por certo, levou na mente uma criativa oratória para encantar os Anjos.

 

Salve Ruy Carlos Ostermann!