Jornada iniciou no domingo (8) e segue até 18 de março. Dia 14, completam dois anos do assassinato de Marielle Franco

 

Milhares de manifestantes caminharam pelas ruas de Porto Alegre no ato do Dia Internacional de Luta das Mulheres, realizado no final da tarde desta segunda-feira (9). Cantos e palavras de ordem mostraram a força e a disposição para a luta pela vida das mulheres, contra a violência, por direitos e contra as políticas dos governos de Jair Bolsonaro (sem partido), Eduardo Leite (PSDB) e Nelson Marchezan Júnior (PSDB). A manifestação iniciou na Esquina Democrática e percorreu o centro da cidade, até o Largo Zumbi dos Palmares.

 

O ato lembrou ainda os dois anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Segundo Ana Cruz, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, o assassinato dela e seu motorista é simbólico e mostra os resultados das políticas neofascistas dos atuais governantes. “São dois anos que não sabemos quem matou Marielle e isso acaba justificando a alta taxa de feminicídios que está acontecendo no Brasil. O Rio Grande do Sul é o terceiro estado que mais mata mulheres. Para nós é emblemático, Marielle era uma mulher lutadora que denunciava todos os desmandos que o governo do Rio de Janeiro fazia e foi assassinada brutalmente”, afirma.

 

Mulheres em luta / Foto: Fabiana Reinholz

 

A ialorixa Sandrali Bueno, coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), destacou a força das mulheres negras que lutam pela emancipação há séculos, desde que a primeira chegou, escravizada, em solo brasileiro. “Estamos aqui para incluir a nossa pauta e também carregar a pauta das outras mulheres. Para nós, sororidade é muito mais do que se colocar no lugar da outra. Estamos aqui para discutir também privilégios da branquitude e transformar a sociedade, construir uma realidade antirrascista, feminista e que combata todas as discriminações”, destaca.

 

Conforme explica Gabriela Oliveira da Cunha, militante da Marcha Mundial das Mulheres RS, para além das pautas comuns, o 8 de Março também chama a atenção para temáticas locais. “Aqui em Porto Alegre, temos a questão do direito à cidade, temos que pensar uma cidade que contemple as demandas das mulheres. Em nível estadual, levantamos nossa faixa denunciando a megamineração, entrou vários motivos. As pautas são conectadas internacionalmente, é contra a violência das mulheres e pelo direito ao aborto, mas também é denunciar e pensar como a gestão não está boa na cidade pelo olhar feminista.”

 

Na ocasião, conta Gabriela, foi lançada a 5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, com atividades organizadas em diversos países até o 17 de outubro, quando acontecerá o encerramento das ações em um encontro internacional.

 

Além dos movimentos sociais, sindicalistas e mulheres de diversas organizações, compareceram ao ato várias parlamentares, como as deputadas federais Maria do Rosário (PT) e Fernanda Melchionna (PSol), as estaduais Sofia Cavedon (PT) e Luciana Genro (PSol), a vereadora Karen Santos (PSol) e a ex-candidata a vice-presidente e ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB).

 

Jornada de lutas

Contra a violência e por direitos / Foto: Fabiana Reinholz

A jornada de lutas do 8 de Março iniciou na capital gaúcha com uma ação junto aos blocos de Carnaval de rua que desfilaram no domingo (8), Dia Internacional das Mulheres. As mulheres dialogaram com a população, apresentando os preocupantes dados sobre a violência contra as mulheres. Entre eles, o fato de que pelo menos três mulheres são vítimas de feminicídio por dia no Brasil, o aumento de 40% nos casos entre os anos de 2017 e 2018 no Rio Grande do Sul e o descaso das políticas públicas para as mulheres nos níveis federal, estadual e municipal.

 

“Resolvemos unir as ações com os blocos de Carnaval em espaço muito especial, a orla do rio Guaíba, representando a conexão com as águas e a história de Porto Alegre, e também pelo fomento à cultura, que está sendo extremamente atacada, principalmente desde o golpe de 2016”, conta Gabriela. “Foi uma ação com a mulherada muito cultural. Teve dois ensaios de blocos só de mulheres, para daí na segunda-feira a gente fazer uma ação de marcha de rua, dialogando principalmente com as mulheres trabalhadoras”.

 

Na segunda-feira (9), dando continuidade à jornada de lutas, diversas atividades foram realizadas em Porto Alegre. Pela manhã, advogadas e integrantes da ONG Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos promoveram mais uma edição do Estação Themis. A ação oferece às usuárias do metrô acolhimento e informações sobre seus direitos, principalmente em relação à Lei Maria da Penha, procurando orientá-las sobre casos de violência doméstica e familiar.

 

Ação Estação Themis levou apoio jurídico às mulheres no metro / Foto: Fabiana Reinholz

 

Advogada e diretora executiva na Themis Márcia Soares explica que a parceria ocorre desde 2016, atendendo de forma gratuita. “Recorrentemente atendemos sobre direito de família, guarda, pensão alimentícia e violência doméstica, que hoje é um tema que, infelizmente, os índices estão aumentando. E também sobre trabalho, que é um foco importante, já que são mais de 7 milhões de trabalhadoras domésticas no país, em sua ampla maioria negra e com trabalho precarizado”, destaca.

 

Márcia conta que a ação atrai muitas mulheres e que os benefícios são ainda maiores do que o atendimento prestado. “É importante informar sobre direitos porque ninguém busca direitos que não sabe que tem. Para além de encaminhar, é importante afirmar o tempo que sim, as mulheres têm direito e precisam buscá-lo”, afirma.

 

Professora licenciada por problema de saúde, Carmem Andreotti foi uma das mulheres atendidas no Estação Themis. Ela destacou a facilidade do acesso e a atenção dada pelas voluntárias, o que contribuiu para sanar uma dúvida de ordem judicial familiar. “Era uma coisa que tava me atormentando a bastante tempo e eu não tinha oportunidade de buscar atendimento. Agora eu tô saindo plena, calma e tranquila porque foi muito esclarecedor, um alívio para minha alma”, desabafa.

 

Ainda pela manhã da segunda-feira, as mulheres do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) realizaram um protesto contra a instalação da Mina Guaíba, que se concretizada será a maior mina de carvão a céu aberto do Brasil. Em frente à Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam), o grupo exigiu que o governo reconheça o impacto do projeto na Capital e em toda a Região Metropolitana de Porto Alegre.

 

Mulheres denunciam riscos da mineração no RS / Foto: Fabiana Reinholz

 

“Estamos denunciando esse grande projeto de mineração, o da Mina Guaíba, que está aqui a menos de 15 km do centro de Porto Alegre e a menos de 2 km do Delta do Jacuí, que é o rio que contribui para o abastecimento de água de toda a Região Metropolitana”, explica Michele Ramos, do MAM. Segundo ela, as mulheres são as principais impactadas. “Somos as primeiras a lidar seja com os doentes advindos do trabalho da mineração, atividade que mais mata, mutila e acidenta os trabalhadores. Também somos nós mulheres as primeiras a lidar quando falta água em casa, seja por conta dos filhos ou do cuidado da casa.”

 

Próximas atividades

No dia 14 (sábado), data que marca os dois anos do brutal assassinato da vereadora Marielle Franco, será realizado um ato na Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre, das 11h às 14h.

 

Ainda no dia 14, será realizado um Encontro Estadual de Formação da Marcha Mundial de Mulheres do RS, em parceria com as Amigas da Terra, a Comuna do Arvoredo e a Themis, das 9h às 17h, no Sindipetro RS (Av. Lima e Silva, 818 – Porto Alegre). O tema será “Agora é pra fazer valer. Sou força, porque todas nós somos. Sigo porque seguiremos todas nós juntas. Eu sou Marielle Franco: mulher, negra, mãe, da favela. Eu sou porque nós somos”.

 

No dia 12 de março, às 18 horas, será realizado o lançamento da 7ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres, no auditório da FAMURS (Rua Marcílio Dias, 574, bairro Menino Deus). Com o tema “Garantias e Avanços de Direitos das Mulheres – Mais igualdade, mais autonomia, mais direitos”, a conferência faz parte do processo da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, chamada pelo Decreto 9585/2018, da Presidência da República, e será realizada pelo COMDIM – Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, o Fórum Municipal da Mulher e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através da UDM – Unidade dos Direitos da Mulher/SMDSE.

 

Diretoras, do Sindjors, participaram com a camiseta da campanha nacional da Fenaj “Lute como uma jornalista”.

 

De 13 a 15 de março, acontece o 5° Encontro das Pretas, o objetivo principal é dar visibilidade, protagonismo e fortalecer a autoestima da mulher afro-brasileira.

 

E no dia 18 de março, centrais sindicais, movimentos sociais e feministas incluíram a defesa do Estado Democrático de Direito entre as principais bandeiras das manifestações de março, com atos em todo o país. Nesse dia também está marcada uma Greve Nacional dos servidores, por serviços públicos de qualidade, contra a PEC Emergencial e os cortes na Educação.

 

Fontes: Fabiana Reinholz e Marcelo Ferreira  | Brasil de Fato Porto Alegre |  Edição: Katia Marko

 

Leia também:

Dia de Luta das Mulheres Jornalistas denuncia violência de gênero e ataques às profissionais