As críticas ao movimento sindical, em todas as categorias, possuem um consenso: “um ‘bando’ de gente que não faz nada”. Essa é a frase Top 10. Estou na direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) há quase nove anos. Comecei na diretoria geral, depois fui “promovida” ao cargo de tesoureira, que desempenho há quatro anos. Além de estar na gestão do Sindicato, também atuo profissionalmente como assessora de imprensa de sindicatos há muitos anos, e não há uma semana que eu não encontre nas redes sociais o comentário que destaquei acima.
Ao contrário da frase Top 10, trabalho é o que não falta no desafio diário de manter o Sindicato atuante como entidade representativa das e dos jornalistas. Na falta de mãos, os poucos, que nem de longe formam um “bando”, acumulam tarefas em demasia. Essas tarefas se dividem, basicamente, em duas frentes. A primeira é a política sindical: a representação e defesa de direitos, a negociação do acordo coletivo, a busca por melhores condições de trabalho, a denúncia das irregularidades, a luta pela valorização, a participação nos debates e fóruns que discutem o jornalismo, a liberdade de imprensa, a equidade e todos os temas que implicam nas relações de trabalho da categoria. Esse desafio é compartilhado, com maior ou menor participação, entre os 24 integrantes da gestão e os seis integrantes do Conselho Fiscal. Mas é sobre a direção executiva que recai o maior compromisso. Somos nove pessoas, nove profissionais, cada um com seus trabalhos e compromissos de vida, mas assumimos a responsabilidade de manter o SindJoRS atuante. Deste grupo da direção, somente duas pessoas estão cedidas pelas empresas para responder, seja pela manhã, tarde ou noite, às diversas situações que são pertinentes ao nosso universo profissional. No horário comercial, contamos com o grande auxílio de uma funcionária.
A segunda tarefa é a administração do SindJoRS CNPJ. Um trabalho que implica manter um escritório de contabilidade, uma assessoria jurídica, um programa de gestão, cadastro e arquivo e o atendimento ao público. Tarefas que exigem a busca por conhecimentos além do nosso fazer profissional. Passamos a ser também empregadores e é necessário cumprir com todos os direitos e obrigações trabalhistas (jornada, ponto, salário, vale-alimentação, vale transporte, FGTS, INSS, IRPF, PIS, eSocial, exames de saúde periódicos e outras implicações), respeitando suas especificidades e normas. Gerenciamos e controlamos gastos como água, luz, condomínio, internet, central telefônica, site, prestadores de serviço, tudo isso com um orçamento exíguo.
E ainda somos responsáveis por manter tarefas cotidianas da comunicação com a categoria, gerando conteúdo, notícias, imagens, fornecendo informações em grupos de WhatsApp e administrando redes sociais. Ficou cansada/o? Calma, que ainda precisamos guardar fôlego para planejar, elaborar pautas, reportagens e diagramar o Versão de Jornalistas; produzir, gravar, editar e colocar no ar o podcast A Palava é Tua.
DÍVIDAS, A CEREJA SOBRE O EXCESSO DE TRABALHO
Até 2019, muitas dívidas foram criadas, colocando em risco os 82 anos de existência do SindJoRS e o seu patrimônio (sede de Pelotas penhorada pela Justiça). Para piorar a situação, a reforma trabalhista retirou recursos financeiros necessários para manutenção dos sindicatos e nossa arrecadação foi drasticamente diminuída, sendo composta por duas únicas receitas: mensalidades (com um grande percentual de inadimplência) e cota de solidariedade (com grande número de oposições). Mesmo diante deste cenário, um grande esforço foi iniciado na gestão 2019-2022, que reorganizou as tarefas de política sindical e de administração do Sindicato. Na presidência de Vera Daisy Barcellos Costa e da 1ª vice-presidenta, Laura Eliane Lagranha Santos Rocha, todas as dívidas foram elencadas, as orientações contábeis passaram a serem respeitadas e diversas despesas foram cortadas ou reduzidas. Como resultado, conseguimos parcelar em 60 meses a dívida histórica com o INSS, quitar as dívidas com o escritório de contabilidade e com o Dieese, com as mensalidades da Fenaj, da CUTRS e outras.
Desde 2021 estou na função de 1ª tesoureira e cuido das contas e pagamentos do SindJoRS diretamente. Quando assumi, dentro da gestão, precisei me afastar da política sindical e do jornalismo para fazer uma imersão no mundo da contabilidade e de um rigoroso controle orçamentário. A cada acordo coletivo, quando também é renovada a cota de solidariedade, todo o nosso planejamento fica em suspenso. Sem este recurso, todo o nosso esforço é em vão.
Na atual presidência de Laura Santos Rocha, continuei tesoureira e todos os demais integrantes da gestão seguiram com o compromisso de saneamento financeiro e pagamento das dívidas. Em dezembro de 2023, após um grande esforço, economizamos R$ 35 mil para iniciar a negociação da mais vexatória dívida do SindJoRS, uma ação trabalhista de quase R$ 250 mil, evitando assim o risco de sequestro das contas do sindicato. Com todo o empenho da nossa assessoria jurídica, fechamos acordo com um valor de entrada e parcelas mensais de R$ 2.500,00 nos seis primeiros meses de 2024 e de R$ 3.000,00, a partir de julho, até a quitação.
Com um orçamento sobrecarregado em quase R$ 13 mil, somente para o pagamento dos parcelamentos, sobrevivemos ao ano de 2024 e novamente aguardo o início da arrecadação de mais um período de cota de solidariedade e que as e os colegas associados possam aproveitar a campanha de desconto para a antecipação das mensalidades 2025 e assim sobrevivermos até o próximo novembro, quando colocaremos um ponto final na histórica dívida do INSS.
Não somos “um ‘bando’ de gente que não faz nada”, nem temos ganho financeiro para estar nas gestões do sindicato. O trabalho por trás do trabalho sindical é feito com compromisso, doação, ideal e bons propósitos.
Silvia Fernandes
Mulher, mãe do Vinícius, jornalista, assessora de imprensa e 1ª tesoureira do SindJoRS