O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul – SindJoRS reproduz, abaixo, texto apaixonado da colega Nubia Silveira (clique aqui), publicado nas redes sociais, em homenagem ao jornalista Pedro Jacques, o Pedrinho, que faleceu no dia 11 de maio, sábado.
“Hoje, a velha senhora de preto, me causou mais uma intensa dor. Levou com ela o meu amado amigo, de mais de meio século, Pedro Jacques, o Pedrinho. Não preciso nem fechar os olhos para vê-lo, há muitos anos, sentado à minha frente, num canto da redação da, então, TV Difusora. Sobre duas mesinhas, grudadas uma na outra, estavam as máquinas de escrever, em que datilografávamos o noticiário, que ia ao ar, no fim da tarde, na Rádio Difusora. Pedrinho era o meu chefe imediato, o editor do noticioso. Estava sempre calmo, sorridente, sem se importar com o tempo que, para mim, passava muito depressa.
Não consigo me lembrar se o tal noticioso antecipava o programa dos cantores Teixeirinha e Mary Terezinha, ou entrava logo depois deles. O que me lembro é que quando via a dupla na escada que dava acesso aos estúdios da rádio, a minha ansiedade explodia. Naquele momento – eu sabia muito bem – já deveríamos ter entregue o script, com cada notícia escrita em metade de uma folha A4.
– Pedrinho, temos que entregar, agora, as notícias – eu dizia, quase implorando.
Pedrinho me lançava um olhar entre irônico e sádico. Continuava sem falar nada, colocava as notícias em ordem, com toda a tranquilidade, e subia as escadas degrau por degrau, sem se apressar, sem pular um degrau sequer. Nunca entendi como: o noticiário jamais atrasou.
Ali, na Rádio Difusora, dos padres Capuchinhos, começou a nossa profunda amizade. Na mesma redação era editado o telejornal Câmera10, apresentado pelo Ayrton Fagundes e a ex-Miss Universo Yeda Maria Vargas. Carlos Henrique Esquivel Bastos era o comandante do Jornalismo da rádio e da TV Difusora. Vera Zilio e João Ferreira, se não me engano, tocavam o telejornal, que contava com uma boa safra de comentaristas, entre eles a futura senadora gaúcha Ana Amélia Lemos, falando sobre economia.
Pedrinho era como um irmão para mim: uma pessoa em quem eu confiava, que me dava força, me ajudava, contava histórias, sempre de alto astral. Voltamos a trabalhar juntos na ex-TV Gaúcha, hoje RBSTV. Trabalhávamos e nos divertíamos juntos.
Na TV Gaúcha, acompanhei o início do namoro dele com o grande amor da sua vida, a uruguaia – há muitos anos brasileira – Ana Solé, uma jovem bonita e querida como ele. O casal tinha prazer em orientar os amigos que viajavam a Montevidéu. Sugeriam passeios, restaurantes, hotéis ótimos e baratos.
Pedrinho trabalhou nas rádios Difusora e Gaúcha, nas TVs Difusora e Gaúcha e na Assembleia Legislativa. Lecionou na Famecos/PUCRS.
Apesar de não nos vermos mais todos os dias, sabíamos um da vida do outro. Quando nos encontrávamos, falávamos ao telefone ou trocávamos mensagens era como se ainda fôssemos aqueles jovens cheios de energia e esperança.
Em 2022, Ana me ligou para informar que Pedrinho – pai de Cibele e Pedro e avô de Alice e Maria Antônia – havia sofrido um AVC e estava em coma. Assim viveu por dois anos e dois meses. Faleceu calmamente, como fez tudo na vida. “Ele dormiu e não acordou” – me disse Ana. Senti, ao ouvir o que Ana dizia, que ele partiu em paz.
Amigo, sentirei muita falta da tua alegria. Permanecerás vivo na minha memória e no meu coração. E no de todos que te conheceram e tiveram a sorte de conviver contigo. Adeus!”
Texto: Nubia Silveira | Foto: Arquivo pessoal de Paulo Cicero Casanova