Uma bússola para qualquer cobertura sobre meio ambiente está sedimentada na epistemologia do Jornalismo Ambiental (JA). Entre os sete pressupostos do JA, cinco em especial devem ser observados nessas horas: a) Pluralidade de vozes; b) Assimilação do saber ambiental; c) Cobertura próxima à realidade do leitor; d) Comprometimento com a qualificação da informação; e) Responsabilidade com a mudança de pensamento (Girardi et al., 2020, p. 284-285)*.

 

É importante buscar fontes não oficiais e não tradicionais que possam acrescentar dados para orientar o leitor sobre o atual momento climático (a). Ouvir especialistas para uma boa informação técnica é necessário, mas relatos de experiências de quem vive e sofre com as mudanças do tempo em outras partes do mundo darão outro contexto às suas reportagens.

 

Olhar o jornalismo pela ótica ambiental é outro exercício necessário (b). O profissional não deve se ater a simples exposição de dados. É preciso ter em mente que estamos debatendo o futuro do planeta e, consequentemente, o futuro da vida. E não há como ignorar que os discursos devem estar direcionados em um basta da exploração econômica e que precisamos preservar o que nos resta de florestas, campos, fontes hídricas, menos poluição, menos concreto, menos asfalto.

 

Ajuda muito ficar de olho na realidade do seu leitor (c). Quem não está sofrendo com a destruição ambiental? São enchentes regulares no RS, SC; é o ar tóxico das cidades do centro-oeste sufocadas pelas queimadas; são fontes de água contaminadas, como em Minas Gerais e em parte do Norte devido à ação de garimpeiros; supressão de vegetação nativa em todos os estados; crescimento vertical descontrolado nas grandes cidades. Pegue os temas da COP30 e traga esses problemas para dentro da sua “aldeia” para ilustrar a cobertura.

 

Fique atento também aos dados que circularão pela COP30 (d). Há muitos interesses envolvidos. Muitas estatísticas são divulgadas mostrando apenas os aspectos que interessam à fonte. Busque conseguir os dados completos dos estudos, converse com quem tem pontos de vista contrários. É preciso ter uma visão crítica e em defesa da vida.

 

O jornalista precisa estar compromissado com a mudança de pensamento (e). Ele precisa ficar atento às informações oficiais, obviamente, mas sem perder o olho nas ótimas entrevistas alternativas que surgirão na COP30. Busque novas formas de ver o mundo, outros modelos de pensamento. Aposte nas utopias, nos sonhos, em quem acredita que é possível viver em um planeta mais justo, mais verde, menos explorado e menos destruído.

 

Sérgio Pereira (acima) é jornalista, integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (UFRGS/CNPq)

 

*GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; LOOSE, Eloisa Beling; STEIGLEDER, Débora Gallas; BEL-MONTE, Roberto Villar; MASSIERER, Carine. (2020). A contribuição do princípio da precaução para a epistemologia do Jornalismo Ambiental. RECIIS, 14(2). Disponível em: https://doi.org/10.29397/reciis.v14i2.2053.

 

Fotos: Divulgação site oficial COP30