Nos dias 11 e 12 de setembro, na cidade de Lima, Peru, foi realizado o congresso da Federação de Jornalistas da América Latina e do Caribe (Fepalc), no qual foi eleito o novo Comitê Executivo, que será presidido por Fabián Cardozo, presidente da Associação Uruguaia de Imprensa. Os debates giraram em torno do papel das organizações na luta contra a precarização do trabalho, a concentração da mídia e a impunidade em crimes e ataques a jornalistas em toda a região.
Durante o evento, foi aprovada uma moção da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), com o seguinte teor: “Os delegados e delegadas da Fepalc em seu Congresso, em Lima, exigem do governo brasileiro a completa investigação e punição de todos os assassinos do jornalista inglês, correspondente do jornal The Guardian, Dom Phillips e do ambientalista brasileiro Bruno Pereira, assim como denunciam o clima de violência contra jornalistas promovido pelo governo Bolsonaro”.
O novo comitê executivo é da Fepalc, é composto ainda por Zuliana Lainez (vice-presidente, Associação Nacional de Jornalistas do Peru, Celso Schröder (Secretaria de Ação Política, Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS – Sindjors), Domingo Vargas (Secretaria de Finanças, Federação Nacional dos Trabalhadores dos Meios de Comunicação Social), Filemón Medina (Secretaria de Direitos Humanos, Sindicato dos Jornalistas do Panamá), José Guzmán Beato (Secretaria de Assuntos Profissionais e Formação, Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa da República Dominicana), Adriana Hurtado (Secretaria de Administração e Registros, Federação Colombiana de Jornalistas), Sonia Arrieta Mora (Secretaria de Gênero, Sindicato Nacional de Jornalistas da Costa Rica) e Santiago Ortíz (Secretaria de Imprensa e comunicação, Sindicato dos Jornalistas do Paraguai). Os dois comitês estarão a cargo da União Nacional de Editores de Imprensa do México e da Associação de Jornalistas Haitianos.
A abertura do congresso esteve a cargo de Paula Cejas, diretora do Escritório Regional da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ); Guiomar Alonso Cano, representante da UNESCO no Peru; Fritz Boehm Vice-Coordenador da Missão Técnica do ACNUDH no Peru; e Zuliana Lainez, que além de presidir a ANP é vice-presidente do FIJ. Todas as intervenções coincidiram em destacar a importância do trabalho jornalístico e da liberdade de imprensa para a construção de sociedades democráticas.
Os principais debates ocorridos durante o congresso tiveram como eixos fundamentais a forte concentração midiática que se registra na região; a insegurança laboral dos jornalistas, agravada pelos efeitos da pandemia e da digitalização do trabalho; e a impunidade em casos de assassinatos e agressões a jornalistas. Neste último ponto, foram analisados os casos do México (que até o momento tem pelo menos 16 jornalistas assassinados), Paraguai, Colômbia e Haiti, país em que dois jornalistas morreram em um ataque de gangues criminosas, para quem foi realizada uma ação pública de solidariedade no Parque Kennedy de Miraflores, após a eleição das novas autoridades da FEPALC.
Em relação à precarização do trabalho, foi feita uma revisão da situação em cada país e das ações realizadas pelas organizações. As perspectivas são adversas em toda a região, razão pela qual este será um dos grandes desafios a serem enfrentados coletivamente pela FEPALC neste novo período.
Para abordar o problema da concentração midiática, o evento contou com as participações de Gustavo Gómez e Jorge Acevedo, do Observatorio Latinoamericano de Regulación de Medios y Convergencia (Observacom), que apresentaram seus trabalhos sobre o caso peruano e a partir daí analisaram a situação da região. Os efeitos da concentração em nossas democracias e nas condições de trabalho em toda a região estão na agenda das organizações sindicais da América Latina e as ações para enfrentar essa situação também farão parte do plano de trabalho da Fepalcepalc.
Fala do novo presidente
“É uma honra e um orgulho para mim pessoalmente como trabalhador e para a APU ter tido este reconhecimento internacional pelos companheiros de toda a região. Acredito que simbolize uma avaliação do trabalho que a APU realizou nestes três últimos anos de posicionamento sobre algumas questões que consideramos fundamentais em termos de exercício profissional, liberdade de expressão, qualidade da informação e também a união trabalho que foi feito. É um desafio enorme, que deve ser realizado coletivamente, em equipe com os companheiros da região” , disse Fabián Cardozo.
“Saúdo especialmente Zuliana Lainez, que considero uma referência em todo este trabalho, tanto nestes anos na Fepalc como no seu trabalho na FIJ e na ANP. Saúdo também todos os companheiros, que cada um em sua área deu e dará uma contribuição fundamental”, acrescentou. “Vamos denunciar imediatamente a situação de nossos colegas do México, Haiti, Colômbia e Paraguai, mas especialmente vamos atender a situação do México, que vive uma situação de violência brutal. A ideia é fazer esta declaração perante todas as organizações internacionais”.
Cardozo também fez referência à importância do treinamento: “Vamos apostar muito na formação, no sindicato e no profissional, onde acreditamos que há muito por fazer, e também em questões como a negociação coletiva e outras ferramentas de trabalho sindical”.
Zuliana Lainez, que agora atua como vice-presidente da entidade, afirmou que “o congresso regional da FEPALC reafirma a necessidade de que os profissionais da imprensa se organizem e se articulem para enfrentar a precariedade, a luta contra a impunidade e lutar contra a crescente censura algorítmica de plataformas cujos a falta de transparência está afetando seriamente o exercício da liberdade de expressão on-line.
Ela acrescentou que “para a Associação Nacional de Jornalistas do Peru, foi agradável sediar este evento regional e sediar os debates. A luta, solidariedade e fraternidade, na FEPALC não ficam no campo discursivo, mas se traduzem no dia a dia de nossas organizações. O assassinato de nossos camaradas no Haiti, ocorrido durante os dias do congresso, nos compromete a fortalecer nossa ação internacional para que não fique impune e a violência não se espalhe” .
Nos dois dias anteriores ao Congresso, também foram realizadas duas jornadas regionais de capacitação, apoiadas pela Union to Union, lideradas por Ana Laura Pérez e Valentina de Marval da Observacom, que falaram sobre economia digital e jornalismo, moderação privada de conteúdo, desinformação e ferramentas de verificação de fatos. Também esteve presente Marcio Monzane, diretor regional da Uni Américas, que falou sobre experiências de crescimento sindical, fortalecimento e capacitação por meio das redes sociais e da internet durante a pandemia na América Latina. Para encerrar o segundo dia de treinamento, a Associação Nacional de Jornalistas do Peru, que foi a organização anfitriã, coordenou uma visita ao Lugar de Memória, Tolerância e Inclusão Social.
A FIJ celebra este novo congresso da Fepalc e o compromisso renovado com os trabalhadores da imprensa na América Latina e no Caribe. Reitera também seu apoio à organização regional em sua luta por uma comunicação mais democrática, mais direitos, melhores condições de trabalho e justiça para aqueles que perderam a vida no exercício de sua profissão.