A CUT-RS, em parceria com vários sindicatos e federações, incluindo o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindjoRS), lançou um gibi que retrata as principais lutas enfrentadas pelas mulheres no mundo do trabalho. Os desenhos são do cartunista Fredy Varela, de Caxias do Sul, o mesmo autor das revistas em quadrinhos sobre a reforma administrativa e o plebiscito popular.
Com quatro páginas, o novo gibi já está sendo distribuído pelas entidades e movimentos sociais para trabalhadoras e trabalhadores, bem como nas redes sociais. Também está disponível para parcerias com sindicatos de outros estados, podendo ser acessado na seção Publicações do site da CUT-RS.
O material foi construído pelo Coletivo Estadual de Mulheres da CUT-RS e a Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, tendo sido aprovado pela Executiva Estadual, com o objetivo de intensificar o debate sobre temas que afetam a vida das mulheres no trabalho, como violência de gênero, desigualdade salarial, racismo e empoderamento, dentre outros.
“Fizemos um material que pudesse transmitir, através das palavras e das imagens, as diversas situações que a gente vive, de uma forma que a gente pudesse dialogar com todas as mulheres e categorias. Mulheres trabalhadoras do campo, da cidade, da indústria, do comércio… Algo que alcançasse elas com uma linguagem comum”, explica a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, Mara Weber.
A dirigente sindical conta que o gibi busca uma comunicação democrática e inclusiva. “Construímos um material permanente. Ele serviu para a disputa eleitoral para mostrar qual projeto e quais políticas públicas queremos. Falar da situação terrível que as mulheres estão vivendo e apontar o respeito que queremos”, destaca.
Foto: Carolina Lima / CUT-RS
Cartão vermelho para todos as formas de violência
Mara relata que o material aborda seis eixos que foram definidos pelas mulheres. “Uma das questões mais importantes para nós é o combate à violência. O Rio Grande do Sul é o quarto estado que mais mata mulheres no Brasil. E o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Para nós, é cartão vermelho para todas as formas de violência. Temos o direito de viver em paz e sem violência”, disse.
A violência de gênero é definida como qualquer tipo de agressão, física, psicológica, sexual, material ou simbólica exercida contra uma pessoa ou grupo de pessoas com base no seu sexo ou gênero, impactando de maneira negativa em sua identidade e bem-estar. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017 uma a cada três mulheres em todo mundo foram vítimas de violência física ou sexual durante a vida.
Essa violência não está restrita aos espaços privados. Nos ambientes de trabalho, as mulheres também estão vulneráveis e sofrem muitos ataques. Um relatório elaborado pelo Instituto Patrícia Galvão, em 2020, mostra que 76% das mulheres já sofreram violência no trabalho. Quatro a cada dez já foram alvos de xingamentos, insinuações sexuais ou receberam convites de colegas homens para sair.
Ao falar do contexto do Brasil, a diretora da CUT-RS chama a atenção para o papel do governo Bolsonaro (PL) no aprofundamento da violência contra as mulheres. “A impunidade incentivada por este governo normalizou a violência contra a mulher. Não foi por outro motivo que os casos de feminicídios mais que triplicaram nos últimos quatro anos”, argumenta Mara.
Desigualdade no mundo do trabalho
Outro elemento também abordado no gibi é a questão da desigualdade no trabalho. “A desigualdade salarial entre homens e mulheres, entre mulheres brancas e negras para funções iguais, é um tema que nos preocupa e, por isso, temos o compromisso da luta pela equidade. Tem uma desigualdade imensa, várias camadas de opressão, camadas de injustiça, que vão se acumulando entre nós”, destaca.
Segundo estudo do Instituto Patrícia Galvão, uma parcela significativa de mulheres vivencia situações de depreciação das funções que exercem, tendo suas observações desconsideradas (37%), ganhando um salário menor do que colegas homens com o mesmo cargo (34%), recebendo críticas constantes sobre o esforço com que exercem as atividades (29%).
Mais mulheres nos espaços de poder e decisão
A desigualdade na política também preocupa as dirigentes sindicais da CUT-RS. As mulheres representam 52,49% do eleitorado brasileiro e ocupam apenas 16% das câmaras de vereadores e 12,1% das prefeituras, mesmo havendo uma expressão massiva de candidaturas femininas. Nas eleições de 2020, as candidatas representaram 33,17%, segundo dados do TSE.
Já na chefia das empresas, as mulheres ocupam cerca de 37,4% dos cargos gerenciais, mesmo tendo mais instrução, conforme pesquisa do IBGE. “É um índice baixíssimo ainda mais considerando que somos a maioria na sociedade e a maior parte do eleitorado. Temos que possibilitar o acesso das mulheres a espaços de poder e decisão na política e no trabalho”, defende Mara.
Mais políticas públicas para as mulheres
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros chefiados por mulheres passou de 25% em 1995 para 45% em 2018. Estima-se ainda que só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo período.
“Quase metade dos lares é sustentado por mulheres no país. O acesso a creches e escolas de turno integral faz parte da luta para aliviar a sobrecarga porque ainda somos as mulheres que cuidam tanto de crianças quanto de idosos. Nós ainda somos as cuidadoras da sociedade e, enquanto lutamos para mudar essa realidade, precisamos de estrutura, políticas públicas que garantam esses cuidados, para que a gente possa trabalhar”, salienta a dirigente da CUT-RS.
Impacto da Covid na renda e na vida das mulheres
Segundo dados do Ipea, as mulheres foram as mais impactadas financeiramente pela pandemia. Entre junho e julho de 2020, 4,4 milhões de famílias sobreviveram apenas com os recursos do Bolsa Família. “As mulheres que sobrevivem do trabalho doméstico tiveram uma restrição. Ou elas perderam a renda ou elas foram as mais expostas à doença porque não saíram da linha de frente”, aponta Mara.
Outro dado revela que 80% dos profissionais da saúde que perderam a vida na pandemia eram mulheres. Para a diretora da CUT-RS, “as mulheres da área da saúde são a maioria e estiveram expostas a mortes, a perdas de parentes e a longos períodos longe de seus familiares. Temos que trabalhar no resgaste de políticas públicas com medidas de compensação e construir oportunidades para as pessoas saírem dessa situação de muita precariedade”.
Mulheres contra discriminação na vida e no trabalho
O racismo, o preconceito lbtqiafóbico, a discriminação contra mulheres com deficiência e mães atíípicas também são uma realidade que elas vivenciam na sociedade e no mundo do trabalho. “Lutamos pelo direito de viver sem discriminação. Existe uma estética neoliberal e quem sai desse padrão estético, cultural, religioso, ideológico sofre”, explica Mara.
“Estamos vivendo um momento de ascensão de forças e pensamentos neofascistas no Brasil, que aprofunda todas as formas de discriminação, preconceito e violência”, alerta. Mara destaca que “é preciso combater e construir mecanismos de proteção não só nos sindicatos, mas também na sociedade através da organização das forças democráticas e de políticas públicas que eliminem a discriminação, o preconceito e todas as formas de opressão no mundo do trabalho”
Segundo a dirigente da CUT-RS, “vimos na eleição a imensa violência de assédio eleitoral em cima de trabalhadores e trabalhadoras. Precisamos combater isso. Assegurar o direito de ter uma posição política e ser respeitada. Isso não pode interferir no mundo do trabalho e faz parte do amadurecimento da nossa democracia”.
Desenhos: Fredy Varela – Caxias do Sul | Fonte: CUT-RS