Belém – Barqueata da Cúpula dos Povos (acima) leva mais de 200 embarcações à Baía do Guajará durante a 30ª Conferência das Partes (COP30). Foto: Hermes Caruzo/COP30

 

Imagino que muita gente vá ter em Belém a sua primeira COP e tem dois tipos de cobertura que você faz numa conferência dessa. Eu acho que tem a cobertura da Zona Azul, que é a das negociações diplomáticas, que é uma coisa razoavelmente restrita, porque você precisa ter uma credencial emitida pela ONU. E tem a cobertura de tudo que vai estar em volta da COP, que são os eventos paralelos, tudo que vai acontecer em Belém, relatórios que serão lançados, programas que serão lançados, coisas que são feitas. Belém vai virar um universo. Excesso de pautas sobre clima e meio ambiente. O que mata numa COP não é a falta de notícia, é o excesso de ruído, porque todo mundo vai tentar “vender” alguma coisa na COP e vai virar uma cacofonia de pautas. Todo mundo vai tentar gritar mais alto para ganhar a atenção do jornalista, que precisa ser muito criterioso e muito seletivo. Coisa que te “empurra” pode ser um complicador.

 

Para quem está cobrindo as negociações, eu acho que tem duas coisas. Uma é o coleguismo, porque é muito difícil dar furo de negociação em COP. Não é que não aconteça, acontece, mas é difícil. Então, acho que é uma oportunidade que os jornalistas têm de trabalhar num ambiente muito diferente do ambiente no qual eles operam. Você ajudar o seu colega e ser ajudado por ele, porque todo mundo vai precisar, ninguém consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Vai sempre ter alguma coisa que você está perdendo e que outra pessoa vai poder ter te dizer: “Olha, aconteceu tal coisa”. Ou: “Vai ter tal coletiva da Marina Silva, ela vai dar um quebra-queixo na saída da plenária e não sei o quê”. Esse é o tipo de coisa que acontece em COP. Eu fui ajudado uma vez, de uma forma inesperada, por um cara que é meu amigo até hoje. Em Copenhague, em 2009, eu estava passando assim no meio das multidões, ali fica tudo aglomerado e tal. E esse meu colega Gustavo Faleiros me viu, me puxou pela camisa e falou: “Vem aqui fazer entrevista”. E tinha um cara baixinho de calça vermelha falando com um bando de jornalistas brasileiros. Quem era essa figura? Esse cara era o Thom Yorke, vocalista do Radiohead que estava lá na COP. Foi uma conversa superinteressante. Então esse é o tipo de coisa que acontece em COP. Essa cooperação é importante.

 

Eu acho que não entrar em pânico também é importante, porque quem não se sente perdido numa COP é porque não está entendendo nada do que está acontecendo ali. Então é absolutamente natural as pessoas se sentirem perdidas, atropeladas por um monte de coisas e eu acho que tem que ter também um certo sangue frio com a negociação, porque o documento de hoje amanhã ele não vai estar nem embrulhando o peixe. Os países costumam botar documentos para discussão e que você olha e parece que aquilo ali vai mudar o mundo. Ou aquilo é um lixo completo, que vai ser um fracasso da COP, mas não é nada daquilo que é constantemente negociado. E várias versões desse mesmo texto vão aparecendo. Então, se eu tivesse que resumir em três palavras, eu acho que é isso: cooperação, sangue frio e filtro.

 

Claudio Angelo (acima) é jornalista, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima e autor de “A espiral da morte: como a humanidade alterou a máquina do clima”, vencedor do prêmio Jabuti, e de “O silêncio da motosserra – quando o Brasil resolveu salvar a Amazônia”. Foto: Renato Parada