A COP30 pode ser em Belém, bem longe do Rio Grande do Sul. Mas há muita coisa que será debatida lá, que tem relação com o que acontece aqui pelos pagos. Até porque boa parte da chuva que cai no território gaúcho, o único estado brasileiro onde o Pampa se encontra com a Mata Atlântica, vem da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia.

 

Outro aspecto que conecta o nosso estado ao bioma, considerado o ar-condicionado do mundo, é que muitos proprietários de terras de lá são gaúchos ou descendentes deles. Também vale lembrar que o conceito de pulmão do mundo, disseminado por muita gente, é errado. Os oceanos é que são os maiores produtores de oxigênio do planeta.

 

A história da migração e da ocupação do bioma amazônico, ou seja, o quanto as distintas paisagens de lá – pois há vários tipos de florestas nos ecossistemas do Norte – tem uma relação estreita com os nativos da região Sul. É quando se constata o nome de municípios então, isso fica nítido em Porto Alegre do Norte, por exemplo. O modelo de desenvolvimento com a visão eurocêntrica foi difundido inclusive pelos governos, que obrigavam os chegados ao novo ambiente a desmatar.

 

O que se trata da COP também não pode e não deve apenas tratar da Amazônia, apesar do bioma ser o mais lembrado e citado quando se fala em cumprimento das metas contra o desmatamento. A redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs), faz parte das medidas de mitigação do agravamento do aquecimento global. Mas é com relação à adaptação aos tempos de intensificação às mudanças climáticas que devem ser desenvolvidas muitas pautas.

 

O Rio Grande do Sul é um dos estados de maior ocorrência de eventos extremos do País, como ciclones, chuvas intensas em um pequeno período de tempo, vendavais e granizo. Há estudos do Centro Polar e Climático da UFGRS com relação a isso. De que forma as prefeituras, as empresas, a sociedade têm se preparado para conviver com esse novo normal? O estado e algumas prefeituras instrumentalizaram a Defesa Civil. Porém o que está sendo feito com relação à prevenção de danos?

 

Outro aspecto é a questão econômica, existem produtos da floresta que vem para o Sul, e a logística da Amazônia é algo surreal. Lá não dispõe de estradas como outras regiões do País. O transporte é quase que todo por via fluvial. São faces do Brasil, que para muitos, pode parecer outro planeta.

 

Outras pautas que podem ser feitas é a relação do quanto o clima interfere em tudo: no campo e na cidade. O frio, a umidade, a chuva podem contribuir para o aumento de doenças respiratórias, mas é o calor intenso que mais mata. Vale conferir o volume de óbitos na Europa, onde as casas nem ventilador dispõe, muitas vezes. Por aqui, temos tanto frio, quanto calor e, ainda estiagem. Sim, essa é uma das características que nos fazem ter resiliência para migrar tanto dentro do país.

 

Que medidas estão sendo debatidas para enfrentar longos períodos de ausência de chuva? Há exemplos de outros países e estados que podem ser pesquisados, como o uso de cisternas e armazenamento de água em açudes. No entanto, a construção de barragens em Áreas de Preservação Ambiental (APPs) requer levantar vários aspectos sobre os impactos desse tipo de interferência nos cursos d’água. Vale lembrar também que embora o Estado disponha de uma hidrografia abundante, há muitos conflitos do uso da água. Em várias situações já se precisou debater se a água do rio Santa Maria, por exemplo, iria para abastecimento público ou para as lavouras de arroz (por pressão dos produtores rurais, é claro).

 

Os comitês de bacia hidrográfica são a instância, o fórum determinado por lei para tratar dessa questão, pois têm representantes de distintos segmentos da sociedade. Por interferência de segmentos econômicos, os comitês foram desidratados nos últimos anos pelo governo do Estado. Inclusive há um intenso debate sobre a situação dos comitês na Assembleia Legislativa, onde foi criado o Fórum das Águas.

 

Sílvia Marcuzo (acima) é jornalista, mestranda em Comunicação pela PUCRS e integrante do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (UFGRS) e do Grupo de Pesquisa sobre Comunicação, Crise e Cultura do Cuidado (PUCRS)

 

Fotos: Divulgação site oficial COP30