O jornalista Rogério Galindo, que assinava a coluna e o blog Caixa Zero, foi demitido da Gazeta do Povo na segunda-feira (5). Pai de três filhos, sendo um deles recém-nascido, o profissional estava há 18 anos na empresa. Em 2013, ele recebeu o Prêmio Esso, o mais importante e tradicional do Jornalismo brasileiro, na categoria Regional Sul, com a série de reportagens “Crime sem castigo”, que assinou com os colegas Bruna Maestri Walter, José Marcos Lopes e Rosana Félix.

 

Durante a campanha eleitoral, o blog de Galindo foi o contraponto de uma cobertura favorável a Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e crítica a Fernando Haddad (PT-SP). Em editorial em 26 de outubro, por exemplo, a Gazeta defendeu que o País fosse às urnas para “dizer um inequívoco ‘não’ ao grupo político que governou o país por quase 14 anos, deixando uma ‘herança maldita’ que persiste mesmo dois anos e meio após o impeachment de Dilma Rousseff, e que ainda deve levar alguns bons anos até ser definitivamente expurgada da vida nacional. ”

 

No mesmo texto, a empresa chegou a afirmar que o petismo “desprezou a dignidade humana ao promover o aborto, inverteu valores ao desculpar bandidos como ‘vítimas da sociedade’, usou as políticas identitárias para promover a ‘ideologia de gênero’ [termo usado de forma equivocada para se referir a discussões sobre igualdade de gênero e sexualidade] apesar da rejeição maciça da sociedade e quis tratar como criminosos aqueles que têm opinião crítica ao comportamento homossexual”.

 

Por outro lado, Rogério Galindo manteve postura isenta e firme a favor da defesa de direitos, da democracia e contra o autoritarismo do agora presidente eleito. Em um de seus posts mais corajosos, atribuiu à imprensa responsabilidade pela eleição de Bolsonaro ao ser conivente com o ódio. “O ódio venceu. O ódio ao diferente, a intransigência com a pluralidade. Venceram a tortura, a misoginia, a homofobia, o racismo”, escreveu. “Um candidato não pode defender censura à imprensa, tortura, ditadura e passar incólume como passou este mero capitão da reserva. Não é possível tolerar o intolerável”, prosseguiu.

 

Galindo também fez uma análise crítica sobre o anúncio de que o juiz federal Sergio Moro, responsável até então por julgar os processos da Lava Jato em primeira instância, será ministro da Justiça de Bolsonaro. De acordo com ele, a nomeação deslegitima a Operação e dá credibilidade à narrativa de perseguição do PT. Isso porque foi Moro quem decidiu pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), o que acabou por retirá-lo da disputa presidencial. Todas as pesquisas apontavam que Lula ganharia de Bolsonaro nas urnas.

 

Pois a Gazeta do Povo não só tolerou, como normalizou o intolerável. Para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), a demissão de Rogério Galindo é simbólica. O jornal que, em que pese sua postura sempre conservadora, dizia prezar pela pluralidade de ideias calou uma de suas poucas vozes dissidentes. Pior: deu o recado de que a liberdade de expressão, de manifestação e de pensamento não é, há tempos, princípio norteador da empresa, violando a Constituição Federal em seus artigos 5º e 220, que tratam da liberdade de opinião e de manifestação de pensamento. Perde o Jornalismo, inexistente sem o contraditório. Perde a democracia. Perdemos todos.

 

Procurada pelo SindijorPR, a Gazeta disse que não comenta demissão pontual.

 

Premiados a prêmio

Demitir trabalhadores premiados já se tornou prática recorrente na Gazeta do Povo. Em 2015, José Marcos Lopes, Mauri König e o fotógrafo Brunno Covello, todos, assim como Rogério Galindo, agraciados com o Esso, foram vítimas de um “passaralho”, expressão utilizada para designar desligamentos em massa. O SindijorPR lamenta, mais uma vez, a decisão da empresa de se desfazer dos trabalhadores que constroem a outrora respeitada imagem do jornal.

 

Fechamento de postos

Outros dois jornalistas foram demitidos pelo jornal na segunda-feira. Segundo a Gazeta do Povo, esses desligamentos são por redução de custos. Devido à mudança, o núcleo do Agronegócio ficará com apenas dois profissionais da área.

 

Fonte: FENAJ