Samira de Castro falou sobre o cenário da categoria
A presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, avaliou que o Brasil tem muitos gargalos na área de comunicação como a falta de ofertas de trabalhos formais, baixas remunerações e ainda tem o que ela chama de ‘deserto de notícias’, principalmente em cidades do Nordeste, como Bahia e Ceará, que estão fora do eixo Rio-São Paulo.
“O Brasil tem os chamados desertos de notícias, que são cidades onde não existe um veículo local sequer. Ou seja, são cidades, e até cidades não muito pequenas, mas cidades de médio porte e até metrópoles, em que essa cobertura local é muito pequena. E isso gera desemprego”, lamentou durante entrevista no Jornal A Tarde com o editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra.
A falta de vagas no mercado que leva ao desemprego só fortalece o mecanismo aprovado no governo de Michel Temer com os contratos por meio de Pessoa Jurídica. Neste caso, os trabalhos são submetidos a emissão de um CNPJ para poder exercer a profissão, isentando a empresa dos encargos trabalhistas.
“Nós não temos colegas empregados hoje. Esse modelo tradicional de negócio do jornalismo das redações, das grandes redações, a gente não tem mais. Para você ter uma ideia, hoje quem mais emprega jornalistas no país são os serviços públicos, é a comunicação pública. Governos de estado, prefeituras, câmaras municipais, assembleias legislativas com os seus sistemas de comunicação”, disse a presidente da Fenaj.
Uma solução apresentada por Samira é “pensar em ampliar os sistemas de comunicação, não só o público, mas o estatal também e o privado, e garantir que a produção jornalística chegue a diversos lugares para gente ter colegas empregados”.
De acordo com Samira, há também o chamados “arranjos produtivos” que são formados, muitas vezes, por novos jornalistas que, ao sair da universidade, não tem perspectivas de atuação. O grupo também é formado por comunicadores que estavam inseridos, mas de alguma forma saíram e não conseguem ser recolocados.
“Há também outros que não acreditam no jornalismo da grande mídia. No dia a dia, não querem mais estar vinculados àquelas determinadas coberturas, determinadas linhas editoriais, e se juntam, buscam financiamento isoladamente, buscam atuar por projetos, e aí a gente chama também de ‘por causas'”, explicou Samira.
“Por exemplo, Alma Preta Jornalismo, é um portal só de notícias sobre a questão de igualdade racial, da política, de tudo que envolve a população negra. E tem muitos outros arranjos. A gente tem lá atrás, um dos pioneiros, os Jornalistas Livres, que são colegas que se reuniram para atuar de forma meio coletiva e tentam se manter à base ou dos acessos, aí utilizando as plataformas, ou de financiamentos de entidades internacionais ou até nacionais para fazer essa produção”, completou.
Fonte: Portal Muita Informação (M!) | Foto: Fenaj
Leia também:
“Bolsonaro saiu do governo mas a semente do ódio continua”